CriptoFácil - Desde o colapso da UST em maio, o mercado está atento para o risco que as stablecoins representam para o mercado. Mas esse risco não se restringe apenas às criptomoedas, pelo menos de acordo com Eswar Prasad, professor da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos.
Durante uma entrevista para a emissora CNBC, Prasad, que é professor de economia, disse que conversou com pessoas ligadas ao mercado financeiro. E nessas conversas, os reguladores disseram que as stablecoins podem impactar também os mercados financeiros tradicionais.
Nesse sentido, os reguladores estão mais atentos ao mercado de bonds, ou títulos de dívida dos EUA. Este mercado inclui títulos emitidos tanto por empresas privadas quanto pelo governo. Por exemplo, os títulos públicos e o que se conhece no Brasil como debêntures.
O lastro das stablecoins
De acordo com Prasad, a questão do risco das stablecoins está na forma como essas criptomoedas operam. Stablecoins são criptomoedas que possuem uma paridade (peg) com alguma moeda fiduciária. A USDT e a USDC, por exemplo, possuem paridade com o dólar estadunidense.
Para manter essa paridade, as stablecoins precisam ter reservas que garantem o seu valor. Se existem um milhão de USDT no mercado, a Tether, emissora dessa stablecoin, precisa ter no mínimo US$ 1 milhão em suas reservas. Esse dinheiro serve para evitar a perda de paridade e um eventual colapso da stablecoin.
Só que de acordo com os últimos dados, a Tether tem mais de 58% de suas reservas mantidas em títulos do Tesouro dos EUA. Ou seja, um percentual que equivale a aproximadamente US$ 39,7 bilhões. Da mesma forma, a Circle, emissora da USDC, tem cerca de US$ 12,7 bilhões em títulos do Tesouro.
Risco de queda
Enquanto os usuários mantiverem a confiança nas stablecoins, não há nenhum risco. Mas com a instabilidade do mercado, esta confiança diminui gradativamente. A Tether, por exemplo, viu o valor de mercado da USDT cair de US$ 78 bilhões para os atuais US% 66 bilhões.
Isso significa que usuários sacaram suas USDT em troca de dólares – e é aqui que, segundo Prasad, está o perigo. Uma crise de confiança em uma stablecoin faria com que os usuários resgatassem seus criptoativos por fiat. Isso, por sua vez, faria com que o emissor vendesse seus ativos em reservas para honrar os saques.
Numa situação extrema, de total perda de confiança nas stablecoins, os emissores teriam que vender grandes quantidades de títulos do Tesouro dos EUA. “E eu acho que [a] preocupação dos reguladores é se houvesse uma perda de confiança nas stablecoins”, disse o professor.
Um grande volume de resgates, mesmo em um mercado com alta liquidez, pode criar turbulência no mercado de valores mobiliários, dada a importância do mercado de títulos do Tesouro para o sistema financeiro dos EUA. Acho que os reguladores estão preocupados com razão”, completou Prasad.
Ele também mencionou que o sentimento do mercado de títulos já está frágil nos EUA atualmente. Assim, qualquer incidente de uma corrida de stablecoin poderia levar a um efeito multiplicador e criar uma grande pressão de venda nos títulos.