Ninguém consegue refutar a inovação e o enorme potencial inexplorado das tecnologias blockchain. O exemplo do Bitcoin no sistema financeiro é relativamente recente (desde 2008), mas já introduziu noções novas de transações, que abriram caminho para dezenas de outros criptoativos e dinâmicas financeiras.
Nem mesmo bancos centrais e investidores institucionais conseguem desprezar características relevantes desse tipo de tecnologia. A inédita combinação de publicidade dos registros contábeis com a segurança do anonimato na transação é tão empolgante quanto inovadora do ponto de vista financeiro.
A criptografia nas transações das redes blockchain faz com que elas não possam ser diretamente hackeadas. No entanto, já há uma extensa lista de exemplos de incidentes de crime virtual direcionados a usuários de moedas virtuais e detentores de carteiras digitais.
À parte os casos de falsos moedeiros digitais e corretoras criminosas, grande parte dos grandes riscos à segurança de proprietários de criptomoedas são autoinfligidos. Sim: no ambiente virtual, assumir uma mentalidade desconfiada e aderir a alguns hábitos inflexíveis são necessidades para evitar invasões e cibercrimes.
Ostentação é mau negócio
Dados os problemas crônicos de segurança pública no Brasil, a discrição com dinheiro é um hábito saudável para preservar o patrimônio. Se isso é verdade para ativos físicos, talvez seja uma conduta ainda mais relevante para Bitcoins e outros criptoativos.
Quando falamos em Bitcoin, as chaves pessoais são informadas entre as partes numa transação. Elas ficam registradas publicamente na blockchain e isso é bom para o funcionamento da rede, e não atrapalha o anonimato dos membros da rede. Aliás, esse anonimato é parte relevante da proposta dos criptoativos.
Porém, muita gente se entusiasma com a evolução de sua carteira digital e publica informações sobre transações “vencedoras” nas redes sociais, fóruns virtuais ou até mesmo por mensagens de texto. As informações pessoais coletáveis nesses ambientes virtuais podem ser cruzadas por olheiros” criminosos e intrusos, de modo a identificar quem é o dono de uma carteira de criptomoedas. Muitas vezes, os simples dados e o avatar em uma conta de rede social podem levar à construção de um perfil virtual das vítimas pelos criminosos.
Embora pareça uma possibilidade remota, é uma maneira bastante usada por hackers para estruturar golpes de engenharia social e roubos de carteiras de criptomoedas, que seriam inacessíveis sem a própria iniciativa descuidada do portador.
Portanto, recomenda-se não comemorar vitórias de “day trade” e outras transações na internet. Caso deseje comemorar, é melhor ser vago, sem compartilhar fotos de plataformas de corretora ou dados da carteira.
Minerar com segurança
A mineração é uma atividade passiva para os detentores de moedas digitais: basta contar com um sistema capaz de solucionar as equações da blockchain da moeda por meio de poder computacional. Assim, geram-se mais moedas para redes como a do Bitcoin e da Ether.
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No caso de mineradores, a segurança da blockchain novamente não é uma preocupação. Porém, pode haver o comprometimento no acesso de internet da pessoa – a conexão do computador ao servidor de internet.
Para remediar ou evitar esse tipo de problema, é possível recorrer a um bom aplicativo VPN. Esse serviço permite o acesso de endereços na internet por meio de uma rede virtual privada. Quem utilize a VPN, terá seu anonimato, privacidade e localização preservados de potenciais invasores ou curiosos do mundo virtual.
A VPN é especialmente valiosa para mineradores que usam a mesma máquina para cumprir suas atividades diárias e para minerar criptomoedas. A diversidade de endereços visitados nesses casos é muito superior à dos usuários de computadores dedicados exclusivamente à mineração. Por isso, essa “blindagem” da navegação pode prevenir muitos riscos desnecessários.
Cryptojacking
Porém, o uso de uma VPN pode não ser suficiente para evitar os golpes de “cryptojacking” – sequestro criptográfico, numa tradução livre. O cryptojacking pode ser induzido, em primeiro lugar, pela modificação de scripts de páginas da internet. Nesse caso, hackers invadem uma página da internet e modificam uma parte de seu código.
O computador da vítima sequer precisa ser invadido nesse cenário, mas usará capacidade de processamento para minerar moedas para criminosos enquanto estiver acessando a página.
Em segundo lugar, as vítimas desses golpes podem ser direcionadas ardilosamente a um endereço virtual via phishing. Nesse caso, o link malicioso geralmente infecta a máquina da vítima, que é “forçada” a gastar energia para minerar moedas para um criminosos virtual.
Tanto os mineradores voluntários quanto os involuntários (ou seja, as vítimas do cryptojacking) podem se beneficiar de boas práticas de segurança virtual.
Suspeitar de links, desabilitar o JavaScript do navegador quando desnecessário e aprender a identificar ataques de phishing podem ser um bom começo. Um antivírus de confiança também é imprescindível.
Conclusão
Nem sempre as condutas no mundo virtual espelham as condutas do mundo real. No entanto, quando o assunto é dinheiro (fiat ou cripto), a discrição e a responsabilidade são fundamentais para evitar contratempos.
De fato, as consequências do mundo virtual podem vir a galope – com efeitos ainda mais imediatos do que no mundo real. Se os criptoativos têm vantagens inéditas ante às opções bancárias, por outro lado não contam com um mediador ou um gerente bancário para reclamar, e nem mesmo regulação governamental.
Por isso, tenha muito claro que a responsabilidade com a segurança digital é exclusivamente sua e ainda mais importante.