E chegamos a mais um dia 8 de março, data na qual o CriptoFácil faz uma pequena homenagem para as nossas leitoras. Trata-se do Dia da Mulher.
Mais do que uma homenagem, trata-se de um espaço para mostrar a competência do trabalho e da liderança femininas. Afinal, temos cada vez mais mulheres contribuindo para o crescimento do mercado.
Assim como em 2019 e 2020, o especial do Dia da Mulher traz entrevistas com personalidades femininas do mercado cripto brasileiro. Hoje vamos entrevistar cinco grandes profissionais do mercado brasileiro:
- Rafaela Romano, antropóloga e editora-chefe do Cointelegraph Brasil;
- Miriam Oshiro, cofundadora e COO da OriginalMy;
- Liliane Tie, cofundadora do grupo Women in Blockchain Brasil;
- Flávia Jabur, jornalista da exchange BitcoinTrade;
- Daniela von Hertwig-Meyer, assessora de imprensa da Stratum Brasil.
Cada uma delas contará sua visão sobre como a participação feminina no mercado cripto evoluiu. E, ao mesmo tempo, quais os desafios que existem e precisam ser superados.
Mulheres aumentam participação no mercado brasileiro
Em alguns aspectos, este 8 de março foi marcado por alguns avanços. Por exemplo, no mercado de investimentos, a participação feminina mais do que dobrou em 2020.
Segundo a casa de investimentos Apex Partners, cerca de 847,6 mil mulheres investiam na bolsa brasileira em 2020. Em 2019, o número era de apenas 388,7 mil.
Para Romano, essa participação também se reflete no mercado de criptomoedas. Segundo ela, o número de mulheres tem aumentado em todos os aspectos.
“Quando comecei a atuar no mercado, em 2016, a participação feminina no mercado era menos de 10%. Hoje já temos mais perto de 15%. Enquanto temos a adoção geral, vivemos um processo de aumento da participação de mulheres, embora ainda abaixo do ideal de paridade de gênero em relação ao mercado”, disse.
Para Miriam Oshiro, que entrou no mercado em 2015, a participação feminina não se resume apenas à quantidade. Hoje, as mulheres estão muito atuantes e desempenhando papel fundamental no mercado cripto.
“Comparando com a época que eu comecei em 2015, hoje existem muito mais mulheres atuantes no mercado, conhecedoras do tema e desempenhando papéis importantíssimos de desmistificar o universo cripto e ensinar quem está chegando.”
Essa atuação não apenas aumentou de tamanho, como também em diversidade. As mulheres ocupam diversos cargos no mercado cripto, incluindo muitos em setores-chave de liderança nas empresas.
“Hoje vemos mais mulheres não só investindo em criptomoedas, mas também em posições de destaque e que são referência em seus campos de atuação ligados à criptoeconomia, como comunicadoras, advogadas, contadoras, desenvolvedoras, CEOs, COOs e por aí vai”, afirma Daniela Meyer.
Pequenas coisas, grandes preconceitos
No entanto, muitas dessas mulheres ainda acabam sendo ofuscadas em sua participação no mercado, seja por causa de preconceito, seja pelo desconhecimento de seus papéis.
Um desses casos é citado por Romano: a exchange Binance. A empresa chinesa é mais conhecida por causa da figura de seu CEO, Changpeng “CZ” Zhao. No entanto, poucas pessoas sabem que a Binance possui uma mulher como cofundadora.
“A Binance, por exemplo, tem uma mulher como fundadora, a (exchange) NovaDAX é gerida por uma mulher. Atualmente temos muitas mulheres capazes em qualquer área aqui no Brasil”, ressalta.
Outra questão diz respeito ao valor que a opinião feminina costuma ter no mercado. Muitas mulheres, mesmo com seu conhecimento e preparo elevados, ainda costumam ser ignoradas em suas posições.
Em outros casos, as mulheres sequer conseguem se expressar, sendo interrompidas durante sua fala. É o chamado manterrupting, que também pode ser classificado como uma forma de preconceito.
“Ainda vejo muitos casos de mulheres sendo interrompidas em suas falas (manterrupting), como se seu conhecimento não fosse importante, ou suas ideias não fossem plausíveis. Vejo também muito mansplaining, quando homens tentam explicar a mulheres temas que elas dominam mais do que eles próprios (sim, parece bizarro, mas já aconteceu comigo, inclusive)”, afirma Meyer.
Em algumas situações, as mulheres costumam não ser ignoradas, mas ter suas opiniões preteridas para as de um homem. Mesmo que ambos tenham dito as mesmas coisas.
“Em uma situação, um sujeito me fez uma pergunta, eu respondi e a pessoa deu de ombros. Depois ela fez a mesma pergunta para o meu sócio, que respondeu exatamente a mesma coisa, com as mesmas palavras. O sujeito disse que ele era um gênio”, afirmou Oshiro.
Outro caso ocorre quando as mulheres mostram sua competência e crescimento no mercado, porém tem negadas oportunidades. Isso vale tanto para fechamento de negócios quanto para reconhecimento.
O futuro
De fato, é inegável que o dia 8 de março é bastante especial. Contudo, ele também é um dia de reflexão sobre como as mulheres podem reverter todo este cenário hoje desfavorável.
Porém, a luta feminina continua além desta data. E apesar do predomínio masculino, diversas empresas já possuem um grande número de mulheres em seus quadros.
“O mercado de criptomoedas ainda é um meio onde predomina a presença masculina. No entanto, a cada ano que passa vejo um crescimento constante das mulheres investindo e trabalhando nesse meio”, afirma Flávia Jabur.
Uma dessas empresas é a OriginalMy, que possui a política de ter pelo menos 50% de mulheres em seu quadro. Com isso, a empresa fornece um pequeno esforço nesta luta.
“Estes obstáculos estão sendo removidos com muito trabalho, esforço e dedicação. Ainda há muito o que fazer, mas aos poucos estamos conquistando nosso espaço e mostrando que temos muito a agregar”, afirma Oshiro.
Dessa forma, não estaremos formando tanto líderes quanto investidoras melhores. Afinal, as criptomoedas podem ser um grande instrumento de independência para todos – e todas.
“É claro que a participação feminina no mercado financeiro ainda é pequena, principalmente quando se trata de criptoativos, mas se estamos todos os dias mostrando para o mundo o quão independentes somos, eu pergunto, por que não investir e não falar sobre isso?”, afirma Jabur.