Para o presidente do Banco Central do Brasil (Bacen), Roberto Campos Neto, as discussões atuais sobre a regulação de criptomoedas são irrelevantes.
Segundo ele, os ativos digitais em si não são importantes, o que importa é o “network” envolvido. Ou seja, o desenvolvimento dos protocolos nos quais cada criptoativo se baseia.
Network dos criptoativos está estabelecido
Para sustentar sua tese, ele comparou o mercado de criptoativos a uma rodovia que melhora conforme novos carros são fabricados:
“O cripto tem uma coisa muito diferente, porque o network fica cada vez melhor para cada ativo criado na margem. Em uma analogia pobre, é como se cada carro fabricado melhorasse a eficiência da rodovia (sic)”, disse.
Por network, Campos Neto se refere às blockchains que servem de base para criptoativos.
Conforme noticiou o Valor Econômico nesta terça-feira (25), o presidente do Bacen destacou que as discussões sobre regulação não importam porque o network dos criptoativos já está estabelecido.
Como exemplo, Campos Neto citou os avanços na área de tecnologia de registros distribuídos (DLT, na sigla em inglês).
“Está caminhando para uma coisa descentralizada, mais digital, com maior divisibilidade. A regulação tem que acompanhar isso”, afirmou.
Real digital não será como Bitcoin
Na segunda-feira (24), quando foram anunciadas as diretrizes para o real digital, Campos Neto afirmou que a versão digital do real será diferente de criptoativos como Bitcoin, que não são regulados pelo Bacen.
Ele disse que a CBDC brasileira terá lastro na moeda real, diferente das criptomoedas que, segundo ele, não possuem lastro.
Além disso, outra diferença marcante é que, no caso do real digital, não será possível fazer transferências sem passar pelo sistema bancário, como ocorre com criptomoedas.
Dessa forma, o Bacen pretende reduzir o uso do real digital em atividades criminosas, como lavagem de dinheiro e remessas ilegais.
Ele explicou também que nem todas as moedas físicas serão convertidas em digital. Afinal, para ele, isso colocaria em risco o sistema financeiro:
“Ela é uma extensão da moeda física, e pode ser convertida no mesmo valor. Mas, se toda a sociedade demandasse trocar toda moeda física pela eletrônica, isso geraria enorme problema para os bancos, que sofreriam com a parte do multiplicador bancário.”
Nos próximos meses, o Bacen pretende ouvir sugestões da sociedade e do setor privado. A expectativa é que o lançamento do real digital aconteça dentro de dois a três anos.