Por Alister Doyle
OSLO (Thomson Reuters Foundation) - Cientistas do clima apelaram nesta segunda-feira diretamente a todos no planeta para aproveitar uma chance cada vez menor de limitar o aquecimento global a 1,5°C ou arriscar prejudicar as pessoas que vivem hoje e seus descendentes por milhares de anos.
Com gráficos mostrando indivíduos, de bebês a aposentados, sofrendo cada vez mais com o aumento do calor, o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) dá um toque mais pessoal às descobertas sobre ameaças iminentes do que seus estudos anteriores direcionados aos governos.
“Há uma janela de oportunidade que se fecha rapidamente para garantir um futuro habitável e sustentável para todos”, disse o relatório.
“As escolhas e ações implementadas nesta década terão impactos agora e por milhares de anos”, acrescentou, apontando para riscos de longo prazo, como desertificação e aumento do nível do mar.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, saudou o relatório como um guia para desarmar o que chamou de uma “bomba-relógio climática”.
Os governos ficaram muito aquém das promessas do Acordo de Paris de 2015 para limitar o aquecimento do clima, substituindo os combustíveis fósseis, em meio a crises como a Covid-19, a invasão russa da Ucrânia, a escassez de alimentos e os laços tensos entre a China e os Estados Unidos, os dois principais emissores de gases de efeito estufa.
O resumo do IPCC para autoridades, condensando milhares de páginas de ciência do clima em seis relatórios gigantescos publicados desde 2014, é cheio de referências a estilos de vida mais saudáveis, como andar de bicicleta, caminhar e dietas ricas em frutas e vegetais com menos carne com alto teor de carbono.
“Nós trouxemos o lado humano” da mudança climática, disse Hoesung Lee, presidente do IPCC, em entrevista coletiva, dizendo que foi uma grande mudança desde o último documento de política da organização em 2014, que tinha poucas referências aos indivíduos e seu comportamento.
O relatório foi aprovado após uma semana de reunião de cientistas e governos em Interlaken, na Suíça, para negociar o texto.
O documento orientará a próxima cúpula anual sobre o clima da ONU em Dubai, conhecida como COP28, em dezembro. A conferência deve fazer um primeiro "balanço" da ação climática sob o Acordo de Paris.
(Por Alister Doyle; The Thomson Reuters Foundation)