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ANÁLISE-Brasil se prepara para afrouxamento quantitativo cauteloso, mas pode precisar de 'bazuca'

Publicado 20.04.2020, 12:03
© Reuters. .

Por Jamie McGeever

BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil parece disposto a começar a adotar cautelosamente uma política monetária não convencional, usando pequenas intervenções para combater a disfunção nos mercados de títulos, como acontece com o mercado de câmbio, mas a gravidade da crise pode forçá-lo a copiar medidas dramáticas tomadas nos Estados Unidos e na Europa.

O Congresso está debatendo uma proposta de emenda constitucional que concede ao Banco Central poderes emergenciais para realizar "afrouxamento quantitativo" como parte de seu arsenal de combate a crises, permitindo a compra de ativos financeiros públicos e privados durante emergências nacionais.

Com a queda da receita tributária e um salto nos gastos para mitigar as consequências econômicas da pandemia, o governo espera que seu déficit exploda este ano para 600 bilhões de reais, ou 8% do Produto Interno Bruto.

Enquanto o Federal Reserve (banco central dos EUA) e o Banco Central Europeu estão disparando suas "bazucas", programas de compra de ativos no valor de trilhões de dólares e euros, fontes dizem que a flexibilização quantitativa do Brasil será muito mais limitada em seu escopo e direcionada por natureza.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que sua versão preferida da flexibilização quantitativa achataria a curva de rendimentos sem expandir a base monetária ou o balanço do banco ao comprar títulos de longo prazo enquanto vende dívida de curto prazo --semelhante à "Operação Twist" do Fed em 2011.

Operadores dizem que partes do mercado de dívida deixaram de funcionar normalmente durante a recente crise de aversão ao risco. O spread entre as taxas de janeiro de 2021 e janeiro de 2029 aumentou para mais de 600 pontos-base em março e, embora tenha recuado desde então, ainda está significativamente maior do que em fevereiro.

No entanto, uma fonte familiarizada com o pensamento do BC e dois ex-presidentes da instituição disseram que o banco pode optar por uma abordagem cautelosa inicialmente, intervindo apenas para amenizar distorções do mercado, como ocorre no câmbio.

A fonte disse que não é um objetivo explícito do Banco Central achatar a curva de rendimentos, nem é sua tarefa impedir o mercado de precificar o risco fiscal à medida que o déficit aumenta, exigindo rendimentos mais altos.

O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga disse que, enquanto os bancos centrais estrangeiros estão usando a flexibilização quantitativa como um grande estímulo econômico para reduzir as taxas de juros de longo prazo e aumentar os preços dos ativos, a abordagem do Brasil seria mais "defensiva".

"Aqui, a flexibilização quantitativa seria mais como a intervenção cambial. Se houver pânico no mercado de títulos, o Banco Central poderá intervir no mercado secundário para aliviar a pressão", disse Fraga à Reuters, acrescentando que a equipe do banco é "responsável e sensata".

O banco central disse que não comenta projetos em tramitação no Congresso.

PERIGO DE DEPRESSÃO

Mas alguns economistas dizem que tal cautela subestima a escala da crise. O Fundo Monetário Internacional reduziu na semana passada a perspectiva para a economia do Brasil em 2020 a uma contração de 5,3%, contra crescimento previsto antes de 2,2%.

Willem Buiter, professor visitante na Columbia University e ex-membro do Banco da Inglaterra, afirmou que as autoridades monetárias precisam abandonar as preocupações sobre a taxa de câmbio, inflação e déficit, ou uma profunda recessão pode se tornar uma depressão.

"A situação é grave. Exige que o banco central use todas as suas ferramentas expansionistas para sustentar o estímulo fiscal que o governo está fornecendo", disse Buiter.

"Eles (banqueiros centrais) deveriam liberar e comprar tanto títulos de curto quanto longo prazo...e estarem preparados para cobrir o déficit do governo este ano", disse.

A constituição hoje só permite que o BC compre títulos públicos no mercado secundário para fins de política monetária e de gerenciamento da oferta de moeda, mas o proíbe de financiar o governo.

Alguns participantes do mercado e ex-autoridades temem que a impressão de dinheiro e o aumento do balanço do banco central deixariam o sistema bancário com excesso de liquidez. Isso levaria a taxa de juros efetiva para perto de zero, bem abaixo dos 3,75% da Selic atualmente, criando distorções nos mercados monetários.

"Isso teria consequências negativas enormes para o Brasil. Iria desvalorizar o câmbio de forma acentuada e aprofundaria a curva de rendimentos", disse Sergio Goldenstein, ex-chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do BC, alertando para o risco de fuga de capital.

O ex-presidente do BC e ex-ministro das Finanças Henrique Meirelles também disse que o Banco Central poderia buscar primeiro simplesmente aliviar qualquer estresse e volatilidade do mercado de títulos, fornecendo liquidez sem buscar um certo nível de preços.

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"A intervenção do banco central no mercado de títulos poderia ser como sua intervenção no câmbio", disse Meirelles à Reuters.

Mas ele destacou que, como o presidente do BCE, Mario Draghi, no ápice da crise do euro, Campos Neto precisa estar pronto para fazer "o que for necessário".

"O banco central tem que fazer o que for preciso para combater essa crise, sustentar a economia, fornecer liquidez aos mercados financeiros e garantir que eles funcionem bem. Deveria usar qualquer ferramenta que tiver à sua disposição e agir de qualquer maneira que for necessária para atingir esses objetivos", disse ele.

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