Investing.com – Em coletiva de imprensa após a decisão de elevar os juros nos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, não quis se comprometer com indicativos para as próximas reuniões, deixando a porta aberta para ajustes adicionais, caso seja necessário, mas apontando que ainda é preciso avaliar o andamento de novos dados da economia, incluindo o processo de desinflação e a situação do mercado de trabalho, considerado aquecido.
Nesta quarta-feira, 26, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed elevou a taxa dos fed funds em 0,25 ponto percentual, passando da atual faixa de 5,00-5,25% para 5,25%-5,50%.
Ainda que a última leitura da inflação tenha vindo melhor do que o esperado, apenas um dado não foi o suficiente para continuar a pausa anterior no processo de contração monetária, no entendimento do chairman do Fed.
Powell destacou o processo de desinflação, mas reforçou que o indicador segue alto, o que leva o Federal Reserve a se posicionar em comprometimento e usar medidas que façam com que a inflação retorne à meta de 2%. Assim, o Fed está preparado para novos aumentos, se for apropriado, lembrando a importância de ancorar as expectativas de inflação de longo prazo.
A atividade econômica vem se expandindo a nível moderado e conquistar uma desinflação com a continuidade de uma taxa de desemprego baixa é uma “benção”, mas o histórico sugere que quando os Bancos Centrais atuam para frear a inflação, também afetam o mercado de trabalho, o que é o cenário mais esperado, lembrou Powell.
“Há indicativos de que a oferta e demanda no mercado de trabalho estão entrando em melhor equilíbrio”, acredita.
Como os analistas avaliam as falas de Powell
Com um mercado trabalho ainda considerado muito apertado, Powell repetiu o que disse na última conferência de imprensa reforçando que o Fed continuará a tomar decisões reunião a reunião, conforme a divulgação de novos dados econômicos.
Thomas Monteiro, analista sênior do Investing.com, avalia que o principal desafio para o Fed a partir de agora é administrar as expectativas dos investidores. "À medida que nos aproximamos do que poderia ser o aumento final da taxa de juros deste ciclo, tornou-se crucial para o Fed administrar as expectativas dos investidores. Ao introduzir um elemento de incerteza, o Fed pretende evitar a recorrência da situação de mercado vivida em 2021. No entanto, parece que o mercado ainda não adotou totalmente a mensagem do Fed, pois continua focado principalmente em suas ações práticas", afirma.
O analista ainda acredita que a situação é considerada preocupante, pois pode criar um dilema. "Ou o Federal Reserve precisará encontrar uma maneira de alinhar suas mensagens com medidas concretas ou poderá haver um lamentável ressurgimento das pressões inflacionárias nos Estados Unidos. De qualquer forma, a dissonância entre o Fed e o mercado é algo que deve estar no radar dos investidores para o segundo semestre".
Gustavo Zuquim, gestor de investimentos do Andbank US, comenta a fala de Powell de que a redução da inflação provavelmente exigirá um período de crescimento abaixo da tendência. “Os efeitos do aperto monetário do Fed já estão sendo sentidos, particularmente em áreas sensíveis à taxa de juros, como a habitação. Ele também acrescenta que o crescimento nominal dos salários mostrou alguns sinais de alívio, mas que a demanda por trabalho ainda excede a oferta”.
Powell também comparou as leituras de inflação headline e core e lembrou que o indicador cheio pode não ser o melhor instrumento para observar o caminho da inflação uma vez que conta com componentes mais voláteis e sazonais, destaca Zuquim, que não enxerga novas alterações nos juros neste ano, salve surpresas no caminho.
Com o anúncio e as falas de Powell, Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, mantém o entendimento de que o Fed deve proporcionar mais uma alta nas fed funds em 2023, “em razão da inflação que deve continuar elevada e persistente, com núcleo acima da meta, e o mercado de trabalho aquecido. Acreditamos que os juros devem permanecer elevados por um bom tempo, e o início do ciclo de cortes deve ocorrer apenas no final de 2024”.
Marcelo Oliveira, CFA e co-fundador da Quantzed, afirma que, após a coletiva, DIs caíram e mercado se animou. “Sinceramente, não vi nenhuma mensagem muito positiva para esse movimento do mercado. Powell deixou em aberto ainda a reunião de setembro dizendo que precisa acompanhar os números de perto sem trazer novidades sobre próximas decisões. Foi uma decisão acertada e que veio de acordo com o que se esperava”, conclui.