Por Saqib Iqbal Ahmed
NOVA YORK (Reuters) - Existem os pessimistas com o dólar, e existe Ulf Lindahl.
O diretor de investimentos da gestora de câmbio A.G. Bisset acredita que o dólar despencará 36% em relação ao euro no próximo ano ou perto dessa janela de tempo, levando o dólar a níveis não vistos há mais de uma década.
A recente fraqueza do dólar "é o início de um movimento muito grande" que poderia prejudicar a grande quantidade de investidores expostos ao dólar por meio de suas alocações em ações e títulos dos Estados Unidos, disse Lindahl.
Wall Street está fervilhando com previsões de queda para a divisa, embora poucas sejam tão radicais quanto a de Lindahl. Um índice da moeda norte-americana ante uma cesta de moedas está próximo de suas mínimas em 27 meses e recua cerca de 11% em relação às máximas de 2020, com Goldman Sachs, UBS e Société Générale entre os bancos prevendo mais perdas.
As apostas de fundos hedge contra o dólar nos mercados futuros estão em seus maiores níveis em cerca de uma década, de acordo com dados da CFTC --agência que regula mercados de futuros e opções nos EUA--, enquanto 36% dos gestores de fundos consultados em recente pesquisa do Bank of America Global Research apontaram a venda do dólar como seu principal trade cambial para a segunda metade do ano.
Acertar a cotação do dólar é fundamental para investidores, já que a trajetória da divisa influencia tudo desde lucros corporativos até preços de matérias-primas, como petróleo e ouro.
O estudo de Lindahl divide as oscilações do dólar ao longo das décadas em ciclos de 15 anos em que a moeda enfraquece acentuadamente em relação ao euro, antes de recuperar a maior parte das perdas.
Embora a queda da divisa dos EUA tenha desacelerado nas últimas semanas, é "realmente uma oportunidade de sair do dólar", disse ele.
Grande parte dos investidores pessimistas no dólar prevê que o ativo se desvalorize com base nas perspectivas de crescimento econômico mais forte fora dos Estados Unidos, nas taxas de juros norte-americanas mais baixas e nas preocupações de que os programas para aliviar as consequências econômicas da pandemia de coronavírus estão inflando déficits fiscais.
O Goldman Sachs, por exemplo, acredita que uma economia global em constante melhora e taxas reais negativas nos EUA são uma "receita sustentada para a fraqueza do dólar" e estima o euro a 1,30 dólar até 2023, ante a cotação atual de 1,194 dólar.
Analistas da TD Securities disseram que a abordagem remodelada do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) em torno da inflação vai manter o dólar sob pressão, já que sugere que os juros ficarão mais baixos por mais tempo. O dólar está cerca de 10% sobrevalorizado em relação a outras moedas importantes, disseram.
A Robeco, uma gestora que tem sob seu guarda-chuva 174 bilhões de dólares em ativos, acredita que o dólar vai perder terreno em razão da compressão contínua das taxas de juros e dos diferenciais de crescimento, afirmou Jeroen Blokland, gestor de portfólio da empresa, com sede na Holanda.
O declínio do dólar pode ter um impacto benigno para os mercados, já que afrouxa as condições financeiras, impulsiona os lucros para os exportadores dos EUA e torna mais fácil para os países pagarem a dívida em moeda forte.
Investidores norte-americanos que detêm ativos estrangeiros também estão menos propensos a comprar proteção contra as altas do dólar quando se espera que a moeda continue fraca, aumentando potencialmente a lucratividade de seus negócios.
"Meu portfólio neste momento não tem hedge", disse o gestor da Thornburg Investment Management, Lei Wang. "(Estou) posicionado completamente neste fenômeno do dólar norte-americano mais fraco."
Ao mesmo tempo, uma queda prolongada do dólar poderia enviar um sinal mais ameaçador, refletindo dúvidas sobre as finanças dos EUA e o crescimento econômico, bem como um potencial enfraquecimento da posição do dólar como moeda forte no mundo.
Quase metade dos entrevistados de uma recente do BofA Global Research disse esperar que as reservas globais em dólares dos EUA diminuam ao longo do próximo ano.
"Há muita especulação hoje em dia de que o dólar vai colapsar e perder seu destaque como moeda de reserva global", disse Michael Gayed, gestor do Toroso Investments/ATAC Rotation Fund.
Outros acreditam que uma reversão do apetite ao risco ou notícias melhores sobre a economia norte-americana podem sustentar o dólar.
Rick Rieder, diretor global de investimento em renda fixa da BlackRock, espera que o dólar perca terreno apenas modestamente. A dependência mundial do dólar para o comércio e para operações provavelmente evitará um colapso da moeda, disse ele.