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Após anos caindo, taxa de desemprego no Brasil pode ter repique em 2015

Publicado 21.11.2014, 16:36
Após anos caindo, taxa de desemprego no Brasil pode ter repique em 2015

Por Aluísio Alves

SÃO PAULO (Reuters) - A menos que haja uma reversão das expectativas dos empresários, o Brasil tende a experimentar em 2015 uma reversão da tendência de ganhos reais de salários e queda do desemprego, segundo economistas, órgãos de pesquisa econômica e entidades de classe.

No rastro da indústria de transformação, que vem liderando perdas de vagas, segmentos também intensivos em mão-de-obra, como construção civil, comércio e serviços podem engrossar anúncios de cortes de vagas.

"Vai depender das expectativas; há várias armadilhas, com a indústria podendo contaminar outros setores", disse à Reuters o coordenador do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Airton dos Santos.

Um sinal de que um cenário menos benigno está se desenhando veio na semana passada, quando o Caged mostrou que o país fechou 30.283 vagas formais de trabalho em outubro, primeira queda para o mês na série aberta em 1999. Mas não é o único.

Para Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, além de menos vagas criadas --queda de 38 por cento ante os primeiros 10 meses de 2013--, a diferença entre salários de demitidos e contratados tem crescido, outro sinal ruim. É o que a Contraf-CUT, confederação nacional dos empregados de bancos, diz que o setor está fazendo, além do corte líquido de 3,4 mil postos de janeiro a outubro.

"Isso está contribuindo para queda do rendimento médio das famílias", disse Barbosa Filho.

O ganho real dos salários também vem perdendo força. Segundo o Dieese, o ganho acima da inflação neste ano foi de, em média, 1,5 ponto, ante 2,5 pontos em 2013. Para economistas, a renda média menor tende a levar pessoas fora do mercado a voltar a procurar trabalho.

Esses dados do Dieese e do Caged conflitam com os do IBGE, que anunciou que o desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do país foi de 4,7 por cento em outubro, piso para o mês na série que começou em 2002.

Como o critério do IBGE leva em conta pessoas procurando trabalho, a taxa de desemprego tenderia a subir nos próximos meses, segundo economistas, mesmo se não houver aumento das demissões. A equipe de pesquisa do Bradesco prevê que a taxa média de desocupação subirá para 5,7 por cento entre 2014 e 2015. Já o Morgan Stanley prevê aumento da taxa para 6,1 por cento ao fim do ano que vem.

"De agora em diante pode haver uma reversão nos números de desemprego motivada por dois fatores simultâneos: mais demissões e mais gente procurando emprego", disse o economista do Insper João Manoel Pinho de Melo.

Segundo ele, com o aumento da renda nos últimos anos, muitas famílias podem ter acomodado pessoas que ficaram fora do mercado e a queda da renda traria parte desse contingente de volta.

"A dimensão desse movimento pode revelar que peso isso teve na redução da força de trabalho, que colaborou para que as taxas de desemprego batessem mínimas históricas, mesmo num cenário prolongado de baixo crescimento econômico", disse Melo.

Em paralelo a esse movimento, alguns setores da economia podem efetivar a decisão que vêm segurando há meses, enquanto aguardavam um repique da economia, que não veio. Um dos casos mais emblemáticos é o da cadeia automotiva.

As montadoras de veículos fecharam outubro com menos 12,6 mil vagas ocupadas sobre um ano antes, a 147 mil posições. O setor tem suspendido contratos de trabalho de funcionários diante de queda de vendas no mercado interno e nas exportações e tem pleiteado ao governo a expansão do mecanismo para além do seu prazo legal de cinco meses de vigência.

A fraqueza no setor automotivo, responsável por mais de 20 por cento do PIB industrial brasileiro, tem implicações para toda a cadeia, como as fabricantes de autopeças, setor para o qual o UBS prevê um cenário desafiador nos próximos dois anos.

"A luta do setor agora é por redução de custos em geral e isso inclui mão de obra", disse o presidente da associação de montadoras de veículos, Anfavea, Luiz Moan. "Não tivemos ganhos de produtividade no mesmo ritmo (que os salariais). Os custos subiram muito acima da produtividade."

Outros subsetores da indústria podem ir pelo mesmo caminho, como o têxtil, que já cortou 14 mil vagas nos últimos 12 meses, e o de materiais de construção. Só no Estado de São Paulo, o setor industrial demitiu 51 mil empregados de janeiro a outubro, pior resultado da série iniciada em 2006, segundo a Fiesp, que estima fechar o ano com saldo negativo de mais de 100 mil vagas.

"Os salários têm crescido acima da produtividade. Isso significa custo às empresas, especialmente às indústrias que têm que competir no mercado internacional", disse Guilherme Mercês, Gerente de Economia e Estatística do Sistema Firjan,

A construção civil, que eliminou mais de 33,5 mil postos em outubro no Brasil, de acordo com o Caged, também está em alerta.

Segundo o presidente Secovi-SP, Claudio Bernardes, o nível de emprego no setor pode seguir sendo afetado em 2015. Na cidade de São Paulo, as vendas do setor no acumulado do ano até setembro caíram 43,8 por cento ante 2013, e os lançamentos recuaram 15,4 por cento.

A Fecomercio-SP prevê crescimento zero das contratações do setor neste fim de ano ante igual etapa de 2013, com promessa de pressão no começo de 2015, dada a combinação de inflação elevada e juros em elevação, o que pressiona a intenção de compra dos consumidores e, por decorrência, os empregos no setor.

"Temos a sensação de que esse quadro está se reproduzindo em outras regiões do Brasil", disse a assessora econômica da Fecomercio-SP, Julia Ximenes.

Para economistas, esse cenário tende a fazer com que a agenda dos sindicatos, nos últimos anos bastante concentrada em ganhos reais de salários, migre para a proteção dos empregos.

Representantes de trabalhadores tentam se manter otimistas.

"A maioria das categorias deve seguir tendo aumento real de salário e o nível de emprego deve se manter", disse o secretário-geral da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), Emanuel Cancella.

No entanto, algumas pistas de menor combatividade dos sindicatos já tem aparecido. Há duas semanas, funcionários da Embraer encerraram uma greve, mesmo sem a companhia atender um pleito por reajuste salarial acima de 7,4 por cento.

Após o Dieese mostrar desaceleração dos ganhos salariais, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), maior órgão sindical do país, procurou o órgão para "tentar entender o que está havendo", disse à Reuters uma fonte a par do assunto.

Consultada, a CUT não se pronunciou oficialmente.

(Com reportagem adicional de Juliana Schincariol e Luciana Bruno; Edição Alberto Alerigi Jr.)

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