HAVANA (Reuters) - Quando a banda de rock de Carlos Carnero Los Kent ligou guitarras e bateria para tocar um cover de Rolling Stones na ilha da Juventude, em Cuba, na década de 1960, soldados armados pararam o show e levaram os músicos de volta para a ilha principal.
Cerca de 50 anos mais tarde, Carnero está se preparando para ver os Stones tocarem para uma multidão de 400 mil pessoas em Havana nesta sexta-feira, no mais recente sinal de degelo das relações de Cuba com o Ocidente.
É a primeira vez que a banda britânica se apresenta em Cuba, o que acontece na esteira de uma histórica visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, à ilha nesta semana.
Os Stones chegaram a Cuba na quinta-feira.
"O tempo muda tudo", disse Mick Jagger no aeroporto de Havana, quando perguntado sobre uma antiga proibição de suas músicas em Cuba.
Apesar do tratamento severo que a banda Los Kent recebeu na década de 1960, os instrumentos de Carnero não foram confiscados naquele dia e sua banda continuou tocando em festas secretas. Outros sofreram mais por seu amor ao rock and roll, sendo inclusive enviados para brigadas de trabalho em fazendas para correção de "desvios ideológicos".
"Eles falavam que era música do inimigo", disse Carnero.
Hippies e fãs de rock enfrentaram repressão na Europa e nos Estados Unidos também na década de 1960, mas Cuba foi mais longe, proibindo a música de artistias como os Stones, Beatles e Elvis Presley na rádio e na televisão após a revolução de 1959, que levou Fidel Castro ao poder.
O rock foi visto com maus olhos por décadas e foi só em 2000 que os Los Kent receberam uma licença para trabalhar profissionalmente, conforme pessoas da geração de Carnero atingiram altos cargos no governo.
(Por Frank Jack Daniel)