Pequim, 10 ago (EFE).- À espera do veredicto no julgamento da esposa do ex-líder político chinês Bo Xilai, a China julga a partir desta sexta-feira outros envolvidos no maior escândalo da última década no gigante asiático.
Quatro ex-dirigentes da polícia de Chongqing, a cidade da qual Bo era líder do Partido Comunista até sua queda em desgraça em abril, compareceram hoje em um julgamento fechado à imprensa estrangeira na cidade de Hefei, no leste do país.
Também em Hefei aconteceu ontem a audiência contra Gu Kailai, a esposa de Bo, acusada de ter assassinado com premeditação o empresário britânico Neil Heywood em novembro do ano passado.
Até o momento se desconhece o veredicto, embora o tribunal tenha garantido que Gu admitiu as acusações.
Guo Weiguo, Li Yang, Wang Pengfei e Wang Zhi se apresentaram hoje perante a Justiça acusados de acobertar Gu e obstaculizar a investigação nos meses posteriores à morte do empresário.
O assassinato de Heywood foi o estopim de um escândalo que sacudiu as esferas políticas da China quando o país prepara-se para substituir seus principais dirigentes políticos nos próximos meses.
As autoridades têm o máximo interesse em pôr fim ao escândalo da maneira mais rápida e discreta possível, antes que em outubro aconteça em Pequim o 18º Congresso do Partido Comunista, no qual espera-se que Xi Jinping substitua Hu Jintao como secretário-geral da formação.
Além do julgamento de hoje, na próxima semana será a vez, na cidade de Chengdu, no centro do país, do ex-chefe de polícia de Chongqing e braço direito de Bo Xilai, Wang Lijun, segundo o jornal "South China Morning Post".
O jornal de Hong Kong, que cita duas fontes, afirma que Wang, a pessoa que suscitou o escândalo, será julgado por traição.
A legislação chinesa castiga esse delito com a pena de morte, mas as fontes citadas pela publicação acreditam lhe será imposta uma condenação mais suave porque o ex-chefe de polícia ganhou "méritos" durante a investigação do caso.
Wang provocou o escândalo em torno de Bo, que era até então um dos políticos mais populares do país, quando, no último mês de fevereiro, tentou buscar refúgio no consulado dos Estados Unidos na cidade de Chengdu.
Aparentemente, o então chefe de polícia e vice-prefeito de Chongqing, cuja relação com Bo tinha se deteriorado após anos de confiança mútua, contava com informação prejudicial para seu superior e temia por sua segurança.
Acredita-se que Wang denunciou então os vínculos da esposa de Bo, Gu Kailai, com a morte de Heywood, amigo da família.
Até então, as autoridades chinesas haviam coberto com um espesso véu a morte de Heywood e chegaram inclusive a sugerir que ela tinha acontecido devido a uma ingestão excessiva de álcool, apesar de os familiares do britânico terem garantido que era abstêmio.
No dia 10 de abril, Gu e seu assistente Zhang Xiaojun foram declarados "altamente suspeitos" da morte de Heywood.
Então, e de forma quase simultânea, foi anunciada a suspensão de Bo Xilai do Comitê Central do Partido Comunista por "supostas irregularidades", sem vincular ambos casos.
No dia 26 de julho, as autoridades chinesas anunciaram que julgariam Gu e um empregado de sua família, Zhang Xiaojun, por assassinato premeditado.
Ainda não se sabe quando será anunciado o veredicto imposto à esposa do líder deposto, que, segundo a versão do tribunal, primeiro embebedou Heywood no quarto do hotel onde o britânico estava hospedado e depois, quando o empresário pediu água, jogou veneno em sua boca.
Embora o assassinato seja um dos crimes castigados com a pena de morte na China, os analistas consideram que Gu receberá uma condenação reversível, uma figura legal que permite comutar a pena máxima por uma sentença de prisão perpétua se o réu demonstrar bom comportamento durante um período determinado.
Entre outros fatores, apontam que o tribunal em sua declaração indicou que Gu tinha atuado por temer pela segurança de seu filho, Bo Guagua, e que Heywood havia tido "parte da responsabilidade" em sua própria morte, sem mais detalhes. EFE