Javier Triana.
Libreville, 18 jun (EFE).- Enquanto a economia global atravessa as turbulências próprias de uma crise, os gigantes econômicos olham em direção a novos e dinâmicos mercados, como o da África Subsaariana, onde emerge uma figura a ser explorada: o consumidor africano.
Com uma população jovem, cada vez melhor formada e com um aumento tímido, mas progressivo, de sua capacidade aquisitiva, a região africana ao sul do deserto do Saara desponta como um apetecível destino de investimentos e manufaturas.
"Se vê um novo tipo de consumidor: aumentou o consumo elétrico, demanda por novos produtos, como smartphones, e cada vez querem as coisas com mais velocidade", diz o gabonês Willy Conrad Asseko, diretor da companhia de transporte sob medida "Les Transports Citadins".
O exemplo do telefone é o mais recorrente em uma região na qual, praticamente, não existiam linhas fixas para o grande público, e onde se saltou do nada ao telefone celular em questão de poucos anos.
"Há 5 bilhões de telefones celulares na África, a maioria de segunda mão. Deveríamos diminuir o preço para que possam ser adquiridos novos. É preciso se adaptar ao entorno, pensar nos conteúdos de forma local", aponta Verone Mankou, fundador da congolesa VMK, fabricante dos primeiros smartphone e tablet africanos.
Para a fundadora da revista camaronesa "Je Wanda", Celine Victoria Fotso, o fornecimento de conteúdo local é essencial: "Querem programas de televisão, séries, filmes... Algumas vezes não há oferta destas coisas, e é preciso trazê-las de outras partes do mundo".
As diferenças em relação a outros novos consumidores recentes, como os asiáticos, são apontadas pelo diretor da empresa de telecomunicações Bharti Aritel, o indiano Manoj Kohli.
"Enquanto o consumidor asiático fala mais por telefone, o africano usa mais a internet (no dispositivo móvel). Também na hora de usar os bancos online e o telefone como cartão de crédito. Os africanos vão muito rápido: deram um salto que demorou muitos anos na Europa e nos Estados Unidos", afirma Kohli.
Em uma sociedade pouco familiarizada com os bancos tradicionais, a possibilidade de realizar transações através dos aparelhos móveis é muito popular e traz numerosos dividendos.
"Vocês verão na próxima década. Isto - diz o empresário indiano enquanto saca um telefone do bolso e o mostra aos participantes do Fórum Nova York África, que terminou no domingo (16) em Libreville - se transformou em um caixa. E os ocidentais talvez tenham que se adaptar. É um sistema muito rápido e confiável".
No entanto, o novo consumo na África também apresenta desafios.
"Vejo como o dinheiro (do consumidor africano) passa cada vez mais do consumo alimentar ao não alimentar, mas me preocupa a faixa entre o consumo urbano e o rural (na África). Na Ásia, o dinheiro não ficou restrito ao nível urbano", acrescenta Kohli.
Em algumas ocasiões, a falta de oferta e alcance se deve às dificuldades técnicas de uma empresa, por isso vários governos trabalham para acelerar estes processos que, em último caso, estimularão também seu crescimento.
A diretora do Painel ruandês de Desenvolvimento, Clare Akamanzi, afirma que "agora, criar uma empresa em Ruanda custa 6 horas, e foi reduzido o custo para começar um negócio de US$ 340 para US$ 25".
No entanto, os perfis traçados pelos conferentes se desenham com traços muito amplos, devido às profundas diferenças entre a situação econômica dos mais de 40 países da região, além da desigualdade econômica dentro dos próprios estados.
O novo consumo dos países africanos e o comércio intra-africano são alguns dos temas abordados pelos mais de 180 líderes políticos e empresariais participantes do Fórum Nova York África. EFE