Por Patricia Duarte
(Reuters) - Frente à frente pela primeira vez em público desde que o embate do segundo turno das eleições presidenciais começou, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga deixaram nesta quinta-feira bastante claras as diferenças entre PT e PSDB sobre política econômica, mas com poucas propostas concretas para o futuro.
Numa espécie de debate no programa de Míriam Leitão da GloboNews, Mantega voltou a defender a necessidade de políticas anticíclicas --com desonerações, juros subsidiados e forte atuação de bancos públicos-- em momento de crise internacional como o atual, como diz.
Por sua vez, Fraga --já anunciado pelo candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, como futuro ministro da Fazenda em caso de vitória dos tucanos-- defendeu a necessidade de mais transparência nas contas públicas e maior participação do mercado.
"Precisamos ter um modelo que gere juros mais baixos para todo mundo, não só para quem toma dinheiro do BNDES... A economia é um pouco como a vida da gente. Se você pegar sua poupança e investir mal, comprar uma ação que vai cair preço, vai perder", argumentou Fraga.
"Com a economia é a mesma coisa, o dinheiro tem de ser bem aplicado e isso requer um modelo que regule o mercado, com certeza, mas que se alavanca em cima do mercado, usa o mercado para promover crescimento", acrescentou.
Fraga criticou ainda o uso de mecanismos fiscais pelo atual governo, que acabou abalando a confiança dos agentes econômicos, e disse que num eventual governo do PSDB, a proposta é fazer o país crescer com transparência e viabilizar uma reforma tributária profunda, sem dar detalhes de como isso seria feito.
Mantega manteve o discurso de que a economia brasileira tem sofrido com a crise internacional que, na sua avaliação, ainda existe e que começou no final de 2008, argumentando que apenas os Estados Unidos têm dado sinais de recuperação.
Ele defendeu que a resposta para colocar o Brasil numa rota de maior crescimento econômico já foi dada, como o programa de concessões de infraestrutura envolvendo aeroportos, rodovias, entre outros.
"Nós estamos com uma economia saudável, temos consumo interno e estamos gerando emprego", afirmou o ministro.
A disputa pela Presidência está bastante acirrada entre a presidente Dilma Rousseff (PT) --que tem nas conquistas sociais dos governos petistas um de seus pilares-- e Aécio, que tem a preferência dos mercados financeiros por prometer uma política econômica mais ortodoxa.
No semestre passado, o Brasil entrou em recessão técnica com forte queda da indústria e dos investimentos. A previsão do mercado é de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça cerca de 0,3 por cento neste ano, após a expansão de 2,5 por cento em 2013.
INFLAÇÃO
Um dos temas mais discutidos por Mantega e Fraga foi a inflação que, em setembro, ficou acima do teto da meta do governo --de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos.
O ministro reconheceu que "não está tudo bem", mas defendeu que o indicador fechará o ano dentro da meta, e argumentou que a seca acabou elevando alguns preços importantes, com o de energia elétrica.
Atacou Fraga dizendo que, quando este assumiu o BC em 1999, a inflação estava em 9 por cento e, quando saiu (2002), ela foi a mais de 12 por cento, mesmo com juros elevados. "Não é fácil controlar a inflação", disse o ministro.
O ex-presidente do BC rebateu recorrendo à crise cambial vivida no final dos anos 1990, que elevou o dólar e afetou os preços.
Ao ser questionado se um eventual governo do PSDB controlaria a inflação causando arrocho, como acusa o PT, Fraga disparou: "Ele (Mantega) deve ter uma bola de cristal, porque eles deveriam estar preocupados com o que eles vão fazer, porque a inflação está acima de 6 por cento há três anos e o crescimento está lá embaixo".