Por Howard Schneider e Ann Saphir
WASHINGTON (Reuters) - Importantes autoridades do Federal Reserve deram sequência nesta quinta-feira a um esforço orquestrado para assegurar investidores e a opinião pública que o apoio do banco central dos Estados Unidos à economia permanecerá em curso até que uma recuperação acelerada alcance profundamente a sociedade e seja efetivamente concluída.
Desde agosto o Fed vem ajustando sua linguagem formal e técnica nessa direção, mas, em falas nesta semana, membros do seu comitê de política monetária têm expressado essas promessas em termos mais coloquiais e feito isso em entrevistas a veículos de massa --e não exatamente àqueles voltados para a comunidade financeira, como de costume.
Em entrevista nesta quinta-feira ao programa "Morning Edition", da National Public Radio, o chair do Fed, Jerome Powell, disse que, mesmo com a economia se recuperando mais rapidamente do que o esperado, qualquer mudança na política monetária aconteceria "muito, muito gradualmente ao longo do tempo e com grande transparência".
Em declarações nesta quinta ao Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), o vice-presidente do Fed, Richard Clarida, afirmou que o banco central permanecerá atuante até que a recuperação esteja "bem e verdadeiramente completa".
Lael Brainard, que integra o corpo diretivo do Fed, utilizou no começo desta semana a expressão "paciência resoluta" para descrever a postura do banco central antes de efetuar qualquer mudança na política monetária, enquanto a presidente do Fed de San Francisco, Mary Daly, disse que o banco central mostrará pelo menos "uma boa dose" de paciência.
"Não vamos tirar o ponche ainda", disse Daly.
A mensagem está sendo emitida num momento em que o crescimento econômico dos Estados Unidos deve acelerar para sua taxa anual mais alta desde 1984.
Por um lado, isso representa uma recuperação impressionante, considerando que houve temores de uma depressão iminente desencadeada pela pandemia. Mas, por outro, está aumentando preocupações de que pode ser bom demais, levando-se em conta o risco de uma inflação muito alta ou de uma bolha financeira à espreita e uma suspeita de que o Fed pode eventualmente ter de reagir com taxas de juros mais altas.
O mercado de trabalho pode finalmente estar ganhando força --os novos pedidos de auxílio-desemprego caíram em cerca de 100 mil na semana encerrada em 20 de março--, e Clarida disse que o país pode retornar ao pleno emprego de uma forma "relativamente rápida". As autoridades do Fed praticamente garantiram uma inflação mais alta neste ano.
Isso começou a gerar algumas dúvidas, e não apenas entre investidores que veem o Fed tendo de aumentar as taxas de juros como forma de conter a inflação.
No Capitólio, Powell foi nesta semana repetidamente questionado por parlamentares republicanos se o Fed corre risco de perder o controle da inflação ou dos mercados financeiros ao deixar as taxas de juros baixas mesmo com um "boom" econômico a caminho --isso sem falar na contínua injeção de 120 bilhões de dólares no sistema financeiro a cada mês via compras de títulos.
A resposta, até agora, é que suposições sobre para onde a economia pode se dirigir após um ano tão torturante não substituem a materialização dessas expectativas, de forma que o país possa continuar a recuperar a produção e os empregos perdidos.
FOCO NOS RESULTADOS
O presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin, disse em entrevista à Reuters na quarta-feira que os Estados Unidos podem muito bem ver crescimento econômico acima da tendência por vários anos, devido à demanda reprimida acumulada durante a pandemia e à poupança que os norte-americanos fizeram.
Mas, em termos de qualquer mudança na política monetária do Fed, "o que importa são os resultados que realmente obtemos", disse Barkin. "Vou ver para onde vamos. Não estou tentando pensar demais na data (de qualquer mudança na política monetária). Estou tentando pensar no resultado."
Em comentários na quarta-feira à Sociedade Nipo-Americana de Chicago, o presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, disse da mesma forma que o banco central não recuará apenas porque a economia parece estar se recuperando.
"Não vamos recuar se tivermos apenas esperança e previsão de que estamos próximos (da recuperação)", disse.