Por Patricia Zengerle
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse em seu discurso sobre o Estado da União na terça-feira que cooperaria com a grande potência rival China, mas prometeu "proteger nosso país", uma referência a um suposto balão espião chinês que sobrevoou os Estados Unidos na semana passada.
"Estou empenhado em trabalhar com a China onde possamos promover os interesses americanos e beneficiar o mundo", disse Biden. "Mas não se engane: como deixamos claro na semana passada, se a China ameaçar nossa soberania, nós agiremos para proteger nosso país. E nós fizemos isso."
Pequim negou que o balão era um dispositivo de espionagem.
Esperava-se que Biden abordasse a competição com a China, mas seus redatores de discursos teriam acrescentado essa observação depois que o balão atravessou os céus acima dos Estados Unidos --dominando o noticiário-- antes que um caça norte-americano o derrubasse sobre o Oceano Atlântico no sábado.
O secretário de Estado, Antony Blinken, que se sentou com outros membros do gabinete na Câmara dos Deputados enquanto Biden falava, cancelou uma viagem planejada a Pequim em meio ao tumulto.
Os republicanos aproveitaram o incidente do balão para atacar a decisão de Biden, baseada em conselhos militares, de não abatê-la mais cedo por medo de que os detritos pudessem prejudicar as pessoas em terra.
Os republicanos, que assumiram o controle da Câmara dos Deputados no mês passado, pressionaram uma linha dura nas negociações com Pequim, mas este é um dos poucos sentimentos verdadeiramente bipartidários no profundamente dividido Congresso dos EUA.
Biden mencionou a legislação aprovada no ano passado com forte apoio de democratas e republicanos que impulsionou a indústria de semicondutores dos EUA, e prometeu mais.
"Não pedirei desculpas por estarmos investindo para tornar a América forte. Investir na inovação americana, em indústrias que definirão o futuro, que a China pretende dominar", disse Biden.
Perguntado na quarta-feira sobre as observações de Biden, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, disse: "O lado chinês sempre acreditou que as relações China-EUA não são um jogo de soma zero no qual você perde e eu ganho, e você sobe e eu caio".
"A China não se afasta ou teme a competição, mas nos opomos ao uso da competição para definir toda a relação China-Estados Unidos", disse Mao Ning.
Os democratas se uniram aos republicanos para exigir mais informações sobre o balão e a política da administração Biden em relação ao governo de Pequim.
A Casa Branca adotou uma abordagem diferenciada, procurando diminuir as tensões com a China, que se exacerbaram em agosto quando a então presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, uma democrata, visitou Taiwan.
A visita de Pelosi levou Pequim a realizar exercícios militares perto da ilha reivindicada pela China. As tensões poderiam aumentar novamente se o novo presidente da Câmara, o republicano Kevin McCarthy, visitar Taiwan, como é esperado para ocorrer neste ano.
Sete semanas após o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy dirigir-se aos legisladores do mesmo pódio, Biden também denunciou a invasão russa da Ucrânia e tocou no apoio dos EUA ao governo de Kiev.
O Congresso aprovou mais de 100 bilhões de dólares em ajuda e assistência militar para a Ucrânia e nações parceiras desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022.
"Juntos fizemos o que os Estados Unidos sempre fazem de melhor. Nós lideramos. Unimos a Otan. Construímos uma coalizão global", disse Biden, prometendo ficar com a Ucrânia "o tempo que for preciso".