Por Ana Julia Mezzadri
Investing.com - Em uma coletiva de imprensa na quinta-feira (10), Gustavo Arruda, economista-chefe do banco BNP Paribas (PA:BNPP), traçou um panorama das principais projeções do banco para a economia brasileira pós-Covid-19. Segundo Arruda, o banco prevê que o PIB termine 2020 em -5%, após desaceleração no quarto trimestre, e argumenta que a inflação não causa preocupação.
Entre os destaques da análise do banco está a percepção de que os números de atividade do segundo trimestre não foram tão ruins quanto o previsto pelos analistas, tanto no Brasil quanto para a maior parte dos países. Na perspectiva do banco, a principal razão são as políticas fiscais e monetárias extremamente expansionistas. A economia brasileira afundou 9,7% no segundo trimestre ante os três meses anteriores, entrando tecnicamente em recessão após a contração de 1,5% entre janeiro e março.
Porém, apesar dos números surpreenderem positivamente entre abril e junho, a expectativa do BNP não é de uma recuperação em “V”, mas de uma desaceleração no quarto trimestre que, segundo o banco, vem sendo confirmada por números dos países desenvolvidos nos últimos meses. “Isso não necessariamente é um problema, porque não seria sustentável uma recuperação tão forte quanto a que estamos vendo no terceiro trimestre”, complementa Arruda.
A previsão do banco é que o Brasil não retome o crescimento que vinha tendo antes da crise da Covid-19 até meados de 2022, pois, ainda que os números venham surpreendendo, a percepção é que a economia está sendo incentivada pelo auxílio emergencial, que será descontinuado no ano que vem.
Sendo assim, as projeções do BNP para o PIB brasileiro são de -5% em 2020, contra os -7% previstos no relatório anterior. Em termos trimestrais, o banco espera 8% de crescimento no terceiro trimestre, 1% no quarto e 0% no primeiro trimestre de 2021.
Outro ponto mencionado na coletiva de imprensa é a inflação, que o banco não vê como um problema: “O choque de oferta e de preços tem acontecido em muitos países, com produtos agrícolas subindo, não só no Brasil. Mas a expectativa é que seja só um choque. Não devemos esperar que a inflação surpreenda ou preocupe”, comenta Arruda. A previsão do BNP é que a inflação chegue em 3,5% apenas em 2022, permanecendo abaixo da meta no ano que vem.
Também até 2022, o banco prevê ainda que os juros devem permanecer baixos. “Não podemos nos dar o luxo de acelerar os juros e não conseguir controlar a dinâmica da dívida no futuro”. Também nesse sentido Arruda destaca a importância do cumprimento do teto de gastos, que mostra compromisso por parte do governo.
A previsão do BNP é que a dívida pública termine 2020 em 96% do PIB, caminhando para cerca de 98% a 99% no ano que vem e iniciando uma redução em 2022, estabilizando-se ao redor de 90% do PIB, graças a recursos do BNDES, que deve voltar a pagar o que deve ao governo federal.