SÃO PAULO (Reuters) - O Bradesco (SA:BBDC4) piorou de forma ampla as expectativas para algumas das principais variáveis econômicas brasileiras, vendo mais juros e inflação, câmbio mais depreciado e atividade mais lenta em 2022 e também o risco de racionamento de energia como o principal vetor negativo a ser monitorado.
A estimativa de que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá 1,6% (e não mais 1,8%) está relacionada a sinais crescentes de menor expansão da economia mundial no próximo ano. A desaceleração por aqui não é mais forte porque a retomada do consumo das famílias ao nível pré-pandemia deverá garantir algum dinamismo à economia doméstica, disse o Bradesco em relatório com data desta sexta-feira.
Mesmo com a previsão mais fraca de crescimento econômico, a inflação ficará mais alta em 2022. O segundo maior banco privado do país prevê que o IPCA subirá 3,8% no ano que vem, de 3,3% da projeção anterior.
Mas há vieses para diferentes direções. Segundo o Bradesco, o quadro inflacionário é "bem mais incerto" para 2022, com riscos de propagação das altas de preços de 2021, mas também chances de alívio mais forte devido à perspectiva de desaceleração mais intensa nos preços das commodities em reais e dos alimentos e a uma política econômica "muito menos expansionista".
De toda forma, nas contas do banco privado a inflação ficará novamente acima do centro da meta (de 3,50% para 2022), depois de em 2021 fechar em 9,0%, segundo novo prognóstico do Bradesco, ante taxa de 7,8% estimada antes e que já deixava bem para trás o alvo de 2021 (3,75%).
"Como consequência, esperamos que a taxa Selic encerre este ano em 8,25% e em 8,50% no próximo", disse o Bradesco, que antes via juro básico terminal de 7,50% ao fim dos dois anos.
"No entanto, a Selic deverá atingir um pico entre 8,75% e 9,25% no atual ciclo de aperto monetário, a depender da dinâmica de preços no início do próximo ano e da direção do balanço de riscos, à época", adicionou o banco, avaliando que essa visão lhe parece consistente com a intenção do Copom de levar a Selic para um nível significativamente contracionista.
E mesmo com o juro mais alto a taxa de câmbio depreciará mais em 2022. O Bradesco vê agora dólar de 5,60 reais no encerramento do ano que vem (5,50 reais na estimativa divulgada em setembro), depois de fechar este ano em 5,15 reais (acima dos 5,00 reais esperados antes).
"Ainda que a normalização monetária no Brasil venha contendo os fluxos de saída de dólares, a queda dos termos de troca decorrente da desaceleração da China tende a levar o câmbio para um nível mais depreciado", explicou o Bradesco no relatório, acrescentando que a acomodação da economia mundial e o início da retirada dos estímulos monetários nos países desenvolvidos também sugerem um real mais fraco.
Nas contas da equipe de pesquisa econômica do banco, o valor justo para a taxa de câmbio segue abaixo de 5,00 reais por dólar, mas a eventual materialização desses patamares depende de um "apropriado" equacionamento fiscal, redução da inflação e das incertezas domésticas.
"Na ausência desses fatores, o Real tende a se manter descolado de seus fundamentos por mais tempo", disse o Bradesco no relatório.
O dólar à vista era cotado em torno de 5,36 reais nesta sexta-feira.
(Por José de Castro)