BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil registrou em janeiro o segundo déficit em transações correntes consecutivo após oito meses de superávit nas contas externas, com os dados afetados pelo impacto contábil de operações do programa Repetro, que inflam o valor das importações, e refletindo ainda os efeitos da crise econômica gerada pela pandemia, mostraram dados do Banco Central divulgados nesta quarta-feira.
O déficit em transações correntes foi de 7,253 bilhões de dólares em janeiro, abaixo do esperado pelo mercado, segundo pesquisa da Reuters com analistas, de saldo negativo de 7,75 bilhões de dólares. No mesmo mês do ano passado, as principais trocas do país com o exterior tiveram saldo negativo de 10,3 bilhões de dólares.
A balança comercial, que em meados do ano passado chegou a registrar superávit acima de 7 bilhões de dólares em meio à queda vertiginosa das importações diante da pandemia, fechou janeiro com déficit de 1,910 bilhão de dólares.
O dado, contudo, foi inflado por operações de nacionalização de bens da indústria de petróleo estimadas em 2,3 bilhões de dólares feitos em adequação a mudanças no programa Repetro, que dá benefícios tributários ao setor de petróleo e gás, e que são computadas como importações.
Já o déficit na conta de serviços manteve tendência de retração, somando 1 bilhão de dólares em janeiro, o menor valor mensal desde fevereiro de 2009 e queda de 59% sobre o mesmo mês de 2020.
O resultado reflete o encolhimento de despesas com serviços como viagens internacionais (-95%) e aluguel de equipamentos (-49%), que têm sofrido o impacto da retração econômica e, no primeiro caso, também das medidas de lockdown adotadas internacionalmente.
Na renda primária, as remessas de lucros e dividendos recuaram a 797 milhões de dólares, pouco mais da metade do valor registrado há um ano (1,470 bilhão de dólares).
O déficit em conta corrente em 12 meses passou a 0,65% do Produto Interno Bruto (PIB) no mês passado, ante 0,87% do PIB em dezembro de 2020.
INVESTIMENTO ESTRANGEIRO
O déficit em transações correntes do mês ficou bem abaixo do fluxo de investimento direto no país, de 1,838 bilhão de dólares, que foi o menor para o mês desde 2006 (1,472 bilhão de dólares) e também frustrou expectativa de analistas do mercado de entrada de 2,8 bilhões de dólares.
Para fevereiro, contudo, o BC espera um salto nos investimentos diretos, que chegariam a 6,5 bilhões de dólares. Se confirmado, será o maior fluxo mensal desde março do ano passado, quando ingressaram nessa conta, voltada a investimentos no setor produtivo, 7,4 bilhões de dólares.
Os investimentos estrangeiros em portfólio, que acumularam no ano passado uma saída líquida de 8,499 bilhões de dólares, tiveram um fluxo positivo de 6,198 bilhões de dólares em janeiro. Desse total, 4,651 bilhões de dólares foram destinados a ações e fundos de investimento e 1,547 bilhão de dólares, a títulos da dívida.
(Por Isabel Versiani)