SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta-feira, durante evento em São Paulo, que a instituição trabalha para ter um sistema de intermediação financeira mais digital, para elevar a concorrência, e que é contrário à instituição de moedas comuns entre os países.
"Estamos tentando atingir um regime de intermediação mais digital. Isso aumenta a competitividade", pontuou Campos Neto, destacando também a possibilidade de uso mais eficiente de seguros nas operações.
Ao falar em evento do Valor Capital's Crypto Workshop, organizado pelo Valor Capital Group, LLC, Campos Neto afirmou que um dos desafios para se ter um sistema de intermediação mais eficiente é a proteção de dados.
O presidente do BC também tratou do atual estágio de desenvolvimento tecnológico na área financeira. Segundo ele, há um ano havia pessimismo sobre como conectar os diferentes sistemas de cada país.
Neste período, porém, houve um "grande avanço" na tecnologia para conexão, conforme Campos Neto.
"O que devemos pensar é em conectar os diferentes sistemas que nós temos", disse.
Ao responder a perguntas de participantes do evento, Campos Neto também defendeu a ideia de que, com a digitalização, não é preciso ter uma moeda comum entre países para se alcançar os efeitos positivos de uma moeda comum.
Ele se disse contrário à adoção de moedas comuns e citou dois episódios em que se falou em uma divisa única entre Brasil e Argentina.
"Sempre fui contrário", disse.
O presidente do BC afirmou que uma moeda comum carrega o DNA de dois países. Por isso, as taxas de juros e a inflação seriam uma mistura de ambos.
Ao mesmo tempo, ele defendeu a conversibilidade de moedas -- ou seja, a capacidade de uma divisa ser aceita por outros países, sem restrições.
"Uma vez que tivermos mais moedas internacionais, podemos pensar em uma completa conversibilidade", disse o presidente do BC, acrescentando que está nos planos da instituição fazer do real uma moeda conversível. "Mas faremos isso de forma gradual."
Campos Neto pontuou que uma moeda que é usada por outros países não é uma "causa", mas uma "consequência" de outros fatores.
Os comentários de Campos Neto surgem em um momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem defendido publicamente que países como Brasil e Argentina possam realizar transações utilizando suas próprias moedas, e não necessariamente o dólar.
CONTRATOS
Campos Neto defendeu ainda que o avanço do setor não está ligado apenas ao uso de ferramentas como o Pix, o sistema brasileiro de transferências em tempo real. Para ele, o futuro passa pela utilização de contratos.
Ele deu como exemplo a venda de um automóvel, que hoje pressupõe um tempo maior para o recebimento do pagamento e a transferência do bem.
"E se tivermos um contrato para fazer isso automaticamente?", questionou. "Para nós, o pagamento digital é uma pequena parte do que estamos tentando fazer."
Ao tratar do uso da tecnologia em instituições públicas, Campos Neto defendeu que o governo tenha um ministro para a área digital, que pudesse pensar em soluções digitais para a prestação de serviços públicos.
(Por Fabrício de Castro)