Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou a mensagem mais recente da instituição sobre a taxa básica Selic e afirmou que o ritmo de cortes de 0,50 ponto percentual é o “apropriado” atualmente.
“A gente entende que o meio por cento é um ritmo apropriado hoje, dadas as condições”, disse Campos Neto em entrevista gravada para o programa “Conversa com Bial”, da TV Globo, e veiculada na madrugada desta terça-feira. “Achamos que a inflação está indo para o caminho correto”.
Em agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC iniciou o processo de redução da Selic, com um corte de 0,50 ponto percentual. Na ocasião, o colegiado – formado por Campos Neto e oito diretores – indicou a intenção de manter o ritmo de cortes nas reuniões seguintes.
Em setembro, o Copom reduziu a Selic pela segunda vez em 0,50 ponto percentual, para 12,75% ao ano, e repetiu a mensagem de que novos cortes de meio ponto devem ocorrer nas reuniões seguintes.
Ao mesmo tempo, o presidente do BC pontuou que ele não controla todo o processo de decisão da Selic.
“São dois dias de reunião... Tem uma apresentação sobre dinâmica de preços... Depois fazemos uma rodada na mesa, o presidente é o último a falar, cada um fala o que acha e dá seu voto. O presidente é o último”, disse.
Questionado sobre a meta do governo Lula de atingir um resultado primário zero em 2024 -- uma tarefa considerada difícil por boa parte do mercado financeiro -- Campos Neto desconversou.
“É uma parte delicada, porque o Brasil é um caso de país que vem com a dívida aumentando há muito tempo”, disse.
RELAÇÃO COM HADDAD E LULA
Em outro momento da entrevista, Campos Neto voltou a afirmar que seu relacionamento com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é “muito bom”.
“Obviamente, a gente não vai pensar igual em tudo, mas a gente está muito alinhado”, afirmou, acrescentando que “várias pessoas” ajudaram a construir a ponte entre ele e Haddad. “Sei que o trabalho dele é difícil”.
Criticado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por setores do PT ao longo de 2023, Campos Neto procurou minimizar o episódio em que foi votar, na eleição do ano passado, com a camisa da seleção brasileira -- normalmente associada aos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo ele, o ato era “mais do mundo privado que do mundo público”. “Obviamente, hoje eu não faria isso”, acrescentou.
Sobre o relacionamento com Lula, que em vários momentos criticou a política de juros do BC, Campos Neto pontuou que os dois se reuniram até o momento apenas duas vezes. O primeiro encontro ocorreu no fim de 2022 e o segundo na semana passada.
“O Lula gasta mais tempo prestando atenção no que você fala. O Bolsonaro era mais rápido. Eu sabia que tinha três minutos para conversar algo... depois ele (Bolsonaro) ficava mais disperso”, disse Campos Neto, ao comparar os dois políticos.
De acordo com Campos Neto, novos encontros com Lula podem ocorrer. A conversa entre os dois na semana passada durou cerca de uma hora e meia.
“Eu ouvi mais do que falei. Na primeira vez, talvez eu tenha falado demais”, acrescentou.