O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira, 30, que o tema política fiscal vai dominar o debate internacional e que o mundo estará de olho na agenda interna do Brasil. "Vai ser mais importante fazer o dever de casa", disse em entrevista gravada à CNN.
Campos Neto repetiu que, após o aumento de despesas na pandemia, os países passaram a enfrentar uma falta de coordenação entre políticas monetária e fiscal. Ele citou que o custo de rolagem da dívida das nações desenvolvidas triplicou, o que reduz a liquidez em outros lugares.
No caso dos Estados Unidos, por exemplo, a manutenção dos juros altos por mais tempo do que esperado torna a vida dos países emergentes mais difícil, segundo ele. Campos Neto disse que o dólar mais valorizado frente ao real reflete justamente a percepção sobre os juros americanos.
Ele afirmou ainda que não existe relação entre a taxa de juros dos EUA e a taxa básica de juros no Brasil, a Selic. "Não existe relação da taxa de juros americana com a brasileira, mas tem influência nas variáveis que impactam nossa forma de trabalhar", explicou.
Apesar dos desafios, Campos Neto ressaltou que a moeda brasileira se comportou relativamente bem à reprecificação dos juros. Ele disse que o temor dos juros mais altos nos EUA está ligado ao alto custo da dívida aos países pobres e ao encarecimento do acesso ao crédito privado.
Políticas públicas x política fiscal
O presidente do Banco Central afirmou que políticas públicas são ótimas, mas reconheceu que a política fiscal no País está quase exaurida.
Em meio à queda de braço entre governo e Congresso sobre a extinção da política de desoneração da folha dos 17 setores, Campos Neto disse que, no geral, desonerações são ruins, principalmente quando são escolhidos setores específicos.
"Em geral, essas políticas melhoram os preços no curto prazo com um custo no longo prazo (...) É como se vendesse o almoço para comprar só metade do jantar", disse em entrevista gravada à CNN, reforçando ser a favor da extinção da política de desoneração.
Em relação à reforma tributária, Campos Neto disse que a simplificação e remoção de distorção ajudam bastante o cenário econômico do País. Ele avaliou que a carga tributária no País é muito alta e há pouco espaço para elevá-la mais.
"Ela (carga) está naquele ponto que, se aumenta, diminui a arrecadação", disse, ao reforçar que o Brasil está muito perto deste ponto. O presidente do BC reforçou que políticas de crescimento podem melhorar a carga de impostos no País.