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Consumo, auxílio emergencial e crédito puxam PIB

Publicado 04.12.2020, 04:02
Atualizado 04.12.2020, 08:43
© Reuters.  Consumo, auxílio emergencial e crédito puxam PIB

O auxílio emergencial de R$ 600 mensais para trabalhadores informais, medida para mitigar a crise causada pela covid-19, e o aumento nas concessões de crédito para pessoas físicas impulsionaram o consumo das famílias, contribuindo para uma retomada da economia no terceiro trimestre mais vigorosa do que o esperado no início da crise.

As famílias brasileiras consumiram 7,6% mais de julho a setembro, em relação ao trimestre imediatamente anterior, após do tombo de 11,3% no segundo trimestre e de 2% no primeiro, de acordo com dados do IBGE.

A melhora na demanda doméstica incentivou tanto a produção quanto a venda de alimentos, eletrodomésticos e artigos de mobiliário, turbinando o desempenho da indústria de transformação e do comércio no terceiro trimestre. As duas atividades praticamente já retornaram aos níveis pré-pandemia.

A coordenadora de Contas Nacionais no IBGE, Rebeca Palis, lembra que a indústria foi praticamente paralisada pela pandemia no segundo trimestre, enquanto o comércio não chegou a perder tanto, em função da ajuda do auxílio emergencial. Como as famílias continuaram a consumir, o IBGE percebeu uma redução nos estoques, o que ajuda a explicar também essa reação mais forte da indústria de transformação no terceiro trimestre.

Com as medidas de isolamento social, as famílias deixaram de consumir serviços antes cotidianos, penalizando o desempenho de setores como alojamento, alimentação, serviços pessoais e recreação. Com menos gastos fora de casa, houve um aumento na poupança. Essa reserva financeira, conquistada especialmente pelas famílias de renda mais alta, ajudou a impulsionar a aquisição de bens duráveis.

"A vacina é mais fundamental para o consumo de serviços do que para o comércio. O consumo represado pelo comércio consegue ser recuperado no momento seguinte. Nos serviços não há esse efeito de estocagem. Quem não viajou não viajará duas vezes, quem não almoçou fora não vai almoçar duas vezes", lembrou o economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Serviços

O desempenho dos serviços foi o responsável pela retomada do terceiro trimestre não ter sido suficiente para recuperar as perdas do primeiro semestre, afirmou Rebeca, do IBGE. Os serviços respondem por 73,5% da economia brasileira. A pandemia afetou especialmente o desempenho dos serviços prestados às famílias e o transporte de passageiros.

"Mesmo que tenham acabado as restrições (ao funcionamento de alguns serviços), obviamente que tanto a oferta e também a demanda não voltaram aos patamares pré-pandemia", disse Rebeca, acrescentando que as pessoas estão deixando de ir ao salão de beleza e ao cinema, por exemplo.

Novas restrições de funcionamento decorrentes do atual agravamento da pandemia em cidades importantes, como São Paulo e Rio, podem frear o ritmo de recuperação do consumo nos próximos trimestres, assim como a extinção do auxílio emergencial em meio a um mercado de trabalho ainda precário.

"Várias cidades estão fechando outra vez. Isso tudo prejudica a atividade econômica, mas é melhor salvar vidas. No próximo ano o PIB vai crescer, mas porque tem uma base de comparação muito baixa", avaliou Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

No terceiro trimestre, o consumo das famílias ficou 6,0% abaixo do patamar do terceiro trimestre do ano anterior. As famílias compraram mais bens não duráveis e praticamente mantiveram o consumo de não duráveis, mas diminuíram em 9,7% o consumo de serviços e em 14,6% o de produtos semiduráveis, de acordo com os cálculos do Monitor do PIB-FGV.

A manutenção do auxílio emergencial após janeiro, ou sua substituição por um programa mais abrangente do que o Bolsa Família, divide economistas. O grupo que defende a prorrogação, apesar da ampliação do rombo nas contas públicas, vê a elevação da dívida pública e a desconfiança de agentes do mercado como menos preocupantes, já que vários países estão tomando medidas desse tipo e que os juros estão baixos no mundo todo.

"Se retiramos o auxílio de maneira súbita, que é o cenário que se coloca hoje, vamos entrar em recessão em 2021 de novo", afirmou José Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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