RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Mercosul não pode ficar alheiro à disputa entre Venezuela e Guiana sobre a região do Essequibo e está acompanhando com crescente preocupação o tema, disse nesta quinta-feira o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da reunião de cúpula do bloco, que acontece no Rio de Janeiro.
"Nós estamos acompanhando com crescente preocupação os desdobramentos relacionados à questão do Essequibo. O Mercosul não pode ficar alheio a essa situação", disse Lula. "Não queremos que esse tema contamine a retomada do processo de integração regional ou constitua ameaça à paz e à estabilidade."
"Eu gostaria de dizer que nós vamos tratar com muito carinho, porque uma coisa que nós não queremos na América do Sul é guerra. Nós não precisamos de conflito, o que nós precisamos é construir a paz", afirmou.
No início da noite, os países do Mercosul divulgaram uma declaração sobre a situação afirmando que ações unilaterais devem ser evitadas pois adicionam tensão, e cobraram Venezuela e Guiana a buscar o diálogo e uma solução pacífica.
"Os Estados Partes do Mercosul manifestam sua profunda preocupação com a elevação das tensões entre a República Bolivariana da Venezuela e a República Cooperativa da Guiana. A América Latina deve ser um território de paz e, no presente caso, trabalhar com todas as ferramentas de sua longa tradição de diálogo", disse o bloco sul-americano.
Também assinam a declaração, Chile, Colômbia, Equador e Peru.
No domingo, a Venezuela fez um referendo sobre a anexação da região do Essequibo, que foi aprovada por ampla margem, segundo dados do governo venezuelano. Depois da votação, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, divulgou um mapa novo do país já com o território.
A região, pertencente originariamente à chamada Grande Venezuela, foi ocupada pelos britânicos -- então colonizadores da região da Guiana -- no século 19. Uma arbitragem no início do século 20, questionada pela Venezuela, manteve o território então com o Reino Unido e, com a independência da Guiana, como parte do país.
Apesar de inóspita e pouco povoada, a região do Essequibo representa dois terços do território da Guiana e é rica em minerais.
O governo brasileiro vem acompanhando a escalada do discurso venezuelano há várias semanas, e o assessor da Presidência Celso Amorim foi enviado por Lula a Caracas, há cerca de duas semanas, para conversar com Maduro, mas não teve sucesso em baixar o tom da oratória do presidente da Venezuela.
Do lado brasileiro da fronteira com os dois vizinhos, as Forças Armadas reforçaram sua presença e estão de prontidão. A única estrada que liga a Venezuela ao Essequibo atravessa por 400 quilômetros o território brasileiro no Estado de Roraima. O Brasil já avisou que não permitirá a entrada de militares venezuelanos.
(Reportagem de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro, Lisandra Paraguassu, em Brasília, e Fernando Cardoso, em São Paulo)