O diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do BC (Banco Central), Paulo Picchetti, afirmou que declarações do presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, sobre a desaceleração da taxa básica de juros, a Selic, feitas durante um “evento” não teriam sido completamente discutidas entre os integrantes do Copom (Comitê de Política Monetária).
Em entrevista à Bloomberg divulgada nesta 3ª feira (14.mai.2024), Picchetti defendeu que é preciso priorizar “mecanismos oficiais de comunicação” que são “resultado de conversas entre os membros do conselho”.
“A comunicação do presidente [Campos Neto] aconteceu em um evento e, honestamente, não sei se ele tinha o objetivo e a intenção de transformar isso em uma orientação, mas acabou sendo o caso”, disse.
O QUE DISSE CAMPOS NETO
Durante reunião com investidores organizada pela XP (BVMF:XPBR31) em 17 de abril, em Washington (Estados Unidos), o chefe do BC respondeu que “entre mudar a orientação e ir para um cenário de redução ou incerteza, é necessário avaliar o impacto da redução ou aumentar a incerteza”, ao ser perguntado sobre qual seria a decisão da próxima reunião do comitê.
“Poderia haver uma redução da incerteza, o que significa que seguiríamos o caminho usual. Poderíamos ter um sistema no qual a incerteza continua a ser muito alta e não muda significativamente, o que pode significar uma redução no passo”, afirmou em outro momento.
No mesmo mês, Campos Neto indicou que houve uma piora da conjuntura econômica. À época, o economista disse que havia mais incertezas agora do que no último encontro do Copom.
Picchetti, que estava ao lado de Campos Neto no evento nos EUA, entretanto, não especificou sobre qual declaração do chefe do BC se referia ou qual evento em que ele falou.
RACHA NO COPOM
O diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos negou que a divergência seja política. “Houve um grande exagero no sentido de atribuir visões muito simplistas às decisões de um lado e do outro”, disse.
Picchetti afirmou que o BC está “100% comprometido” em levar a inflação para o centro da meta, que é de 3%.
O economista foi um dos 4 diretores que votou pelo corte de 0,5 ponto percentual na Selic na 4ª feira (8.mai). A autoridade monetária decidiu reduzir o juro base em 0,25 ponto percentual, de 10,75% para 10,5%.
Segundo a ata do Copom, o Banco Central discutiu sobre um possível custo reputacional da autoridade monetária ao adotar um corte que não havia sido comunicado formalmente.
Campos Neto e outros 4 diretores que não foram indicados pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defenderam que o, na realidade, haveria um “risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem das expectativas”, dada a mudança de conjuntura.
“Mesmo com um corte de 0,5 ponto [percentual], ainda teríamos uma taxa restritiva”, disse Picchetti.