Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - A economia brasileira só retornará ao patamar pré-crise do coronavírus no começo de 2022, limitada pela expectativa de maior endividamento de empresas e famílias e de aumento do desemprego, previu Carlos Pedroso, economista sênior do Banco MUFG Brasil.
Comentando relatório do banco que será divulgado na quarta-feira, Pedroso mantém estimativa de que o Produto Interno Bruto (PIB) retrairá 3,1% neste ano --sendo -0,2% no primeiro trimestre e -8,7% no segundo, sobre os três meses imediatamente anteriores.
Pelas projeções do MUFG, a economia brasileira retomará o pico --alcançado no primeiro trimestre de 2014-- apenas no segundo trimestre de 2023, ou seja, quase uma década depois.
Apesar da fraqueza da atividade, Pedroso adota postura mais conservadora sobre novos cortes de juros pelo Banco Central após provável redução de 50 pontos-base na quarta-feira.
"A grande questão é como o BC conseguiria passar esse custo menor de financiamento ao tomador final. Se mais corte de juros fizer a curva empinar, então é ineficiente", disse, mantendo previsão de que a Selic encerrará 2020 em 3,25% ao ano, ante os atuais 3,75%. "Se o BC vier amanhã mais 'dovish', claro, terei de mudar meu cenário."
Operadores veem mais afrouxamento monetário depois desta semana. Derivativos de juros na B3 apontam Selic de 2,75% ao fim deste ano. Para Pedroso, essa projeção de juro ainda mais baixo ajuda a explicar os níveis da taxa de câmbio neste momento --junto com variaráveis externas.
Baseado nisso, ele acredita que o juro pressionará mais o câmbio a partir de agora apenas se o mercado ampliar apostas de uma Selic ainda menor que 2,75%.
Como em seu cenário-base a Selic fica estável em 3,25% até o fim do ano e o ambiente para mercados emergentes tende a melhorar à medida que a economia global começar a se recuperar da crise do Covid-19 no segundo semestre, Pedroso vê espaço para descompressão no dólar, que fecharia o ano a 4,50 reais.
Seria uma queda nominal de 19% em relação ao patamar desta terça-feira (5,5847 reais), que apagaria metade da alta da moeda no ano até agora, de 39,2%. Ele reconhece, contudo, que o noticiário político tem imposto mais pressão sobre o real.
Ainda nas contas do economista, a dívida bruta do Brasil subiria para 86,1% do PIB neste ano, de 75,8% do fim de 2019, levando em conta não apenas a piora fiscal e a recessão, mas também uma suspensão pelo BNDES de devolução de recursos ao Tesouro Nacional em 2020 e em 2021.