Por Sarah Marsh e Nelson Acosta
HAVANA (Reuters) - Cuba está usando bois no lugar de tratores, substituindo gás por lenha nas padarias e pedindo aos cidadãos que economizem eletricidade aproveitando ao máximo a luz do dia, diante de uma escassez aguda de combustíveis causada por sanções dos Estados Unidos.
O governo cubano diz que está priorizando o pouco combustível que tem neste mês para manter os serviços essenciais, como hospitais, e setores como o turismo, fonte da moeda forte tão necessária para o país.
Em outras áreas, o país está buscando alternativas ou fazendo reduções.
Algumas fábricas de cimento diminuíram a produção, disse o ministro da Construção a uma emissora estatal nesta semana. Uma grande indústria de aço de Havana parou de operar totalmente, disse um metalúrgico à Reuters.
Supervisores de dois grandes canteiros de obras de hotéis de Havana disseram que brigadas de operários de fora da cidade receberam ordem de ficar em casa por causa da falta de combustível para o transporte e a operação das máquinas em capacidade máxima. Os canteiros estão trabalhando com um turno, ao invés de dois ou três.
Outros ramos do setor estatal predominante também estão mandando os funcionários ficarem em casa até segunda ordem por causa dos cortes drásticos no transporte público.
"Se eles não precisam de mim neste momento, prefiro não ter que lutar para andar no teto de um ônibus transbordando de gente, especialmente com este calor", disse Rosario, de 32 anos, que disse que o veículo de notícias estatal em que trabalha a mandou para casa com o salário pago.
Ela não quis informar o sobrenome por medo de uma represália.
Alguns locais de trabalho, universidades e escolas estatais simplesmente reduziram as horas de funcionamento para economizar eletricidade e dar algum alívio ao transporte público nos horários de pico.
Na semana passada, o governo comunista de Cuba anunciou que as sanções dos EUA às remessas de petróleo destinadas à ilha o impediram de conseguir combustível suficiente para setembro.
O presidente Miguel Díaz-Canel disse não se tratar de nada parecido com a crise que Cuba sofreu nos anos 1990 após o colapso da União Soviética, sua antiga benfeitora. Remessas de combustível suficiente para o próximo mês já estão garantidas.
Pavel Vidal, ex-economista do Banco Central cubano que dá aulas na Universidade Javeriana Cali da Colômbia, disse que uma vantagem rara de uma economia centralizada como a de Cuba é que ela permite que o governo "oriente os poucos recursos que tem para as prioridades essenciais do país" em uma crise.