SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou nesta sexta-feira que os dirigentes da instituição não estão dando nenhuma orientação sobre as próximas decisões de política monetária, mas que subirão juros se for necessário.
Durante participação no evento Barclays (LON:BARC) Day, promovido pelo Banco Barclays, em São Paulo, Campos Neto também destacou que os dirigentes do BC têm tomado decisões de forma unânime.
"Todos os diretores estão adotando nosso discurso oficial. Estamos reforçando que não estamos dando nenhum guidance, mas que faremos o que for necessário para levar a inflação à meta", disse Campos Neto. "Elevaremos a taxa de juros se for necessário."
Os comentários de Campos Neto sobre a possibilidade de lata dos juros vieram em linha com fala do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, na segunda-feira, e acontecem em um momento em que a curva a termo brasileira precifica mais de 70% de probabilidade de o Copom elevar a taxa básica Selic, hoje em 10,50% ao ano, em 25 pontos-base em setembro.
Durante o evento, Campos Neto reconheceu que atualmente o Brasil é um dos poucos países em que a curva precifica alta de juros -- e não corte. O presidente do BC ponderou, no entanto, que as "histórias" dos emergentes são diferentes e lembrou que o Brasil também foi o primeiro a iniciar o movimento de baixa de juros, sendo seguido depois por outros países.
Campos Neto reforçou ainda a mensagem de que o BC está "muito incomodado" com a desancoragem de expectativas, que não retornaram para a meta de inflação de 3%. Segundo ele, os dirigentes da autarquia estão observando a questão de perto.
A meta contínua de inflação perseguida pelo BC é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. No relatório de mercado Focus, a mediana das projeções de mercado para a inflação para 2024 está em 4,20% e para 2025 em 3,97% -- em ambos os casos bem acima do centro da meta.
BALANÇO DE RISCOS
Durante sua participação no evento, Campos Neto evitou responder se estava entre os diretores do BC que acreditam que o balanço de riscos para a inflação está assimétrico, com peso maior para fatores inflacionários.
Em suas comunicações mais recentes, o Copom citou três riscos altistas para a inflação (desancoragem de expectativas, inflação de serviços e câmbio), mas apenas dois riscos baixistas (desaceleração global e aperto monetário global).
Em evento na última segunda-feira, Galípolo, disse que ele vê o balanço assimétrico, pontuando que isso decorre não apenas da diferença do número de itens, mas da visão de que há chance de um custo maior de um processo de desinflação. "A alta (de juros) está na mesa, sim, do Copom, e a gente quer ver como isso vai se desdobrar", disse Galípolo na ocasião, reforçando que o BC está dependente de dados.
Em sua fala no evento desta sexta-feira, Campos Neto afirmou apenas que a instituição está se esforçando para reduzir o prêmio de risco relacionado a incertezas na política monetária.
Questionado a respeito da pressão mais recente no mercado de câmbio, quando o dólar à vista chegou a ser cotado acima dos 5,85 reais, Campos Neto afirmou que a instituição decidiu não intervir nos negócios por avaliar que grande parte da volatilidade se devia a prêmios de risco.
Em eventos públicos, autoridades do BC têm repetido que intervenções no câmbio serão feitas apenas em momentos de disfuncionalidade do mercado.
(Reportagem de Fabrício de Castro)