Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O estoque total de crédito no Brasil subiu 5,5 por cento em 2018, a 3,260 trilhões de reais, voltando a crescer após dois anos de retração, impulsionado pelo apetite das famílias por financiamentos diante da melhora da atividade econômica.
Ao mesmo tempo, a inadimplência atingiu seu menor patamar histórico no país no segmento de recursos livres.
Entre as pessoas físicas, o saldo geral de financiamentos teve alta de 8,6 por cento no ano passado. Entre as empresas, a expansão foi de apenas 1,9 por cento, mostraram dados divulgados pelo Banco Central nesta terça-feira.
"Nós podemos caracterizar o ano de 2018 como o ano de recuperação do crédito", afirmou o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, chamando a atenção para a força, entre as famílias, do crédito pessoal -- incluindo consignado e não consignado --, além da modalidade de aquisição de veículos.
A performance do estoque geral veio melhor do que previsão mais recente do BC, de um avanço de 4 por cento. Também ficou acima do crescimento da inflação medida pelo IPCA, que foi de 3,75 por cento no ano passado.
Em dezembro, o estoque de crédito subiu 1,8 por cento sobre novembro. Diferentemente do que ocorreu no acumulado do ano, o desempenho foi puxado pelo aumento visto no crédito às pessoas jurídicas, de 2,7 por cento, enquanto o saldo entre as famílias subiu 1,1 por cento.
Para este ano, o BC previu que haverá um aumento de 6 por cento no estoque de crédito, repetindo com mais fôlego uma tônica já vista no ano passado: alta mais significativa no saldo de financiamentos a famílias e no segmento de crédito livre.
Em 2018, o crédito livre cresceu 11,2 por cento, ao passo que o crédito direcionado sofreu retração de 0,6 por cento.
MENOS INADIMPLÊNCIA, CRÉDITO MAIS BARATO
Olhando apenas para o segmento de recursos livres, em que as taxas são livremente definidas pelas instituições financeiras, a inadimplência caiu 1,1 ponto em 2018, a 3,8 por cento, menor nível da série histórica iniciada pelo BC em março de 2011.
Os juros médios no mesmo segmento tiveram um recuo de 4,7 pontos em 2018, a 35,6 por cento ao ano em dezembro -- menor patamar desde janeiro de 2014 (34,29 por cento), mas ainda distante dos juros básicos da economia.
Diante do ambiente de inflação baixa, a autoridade monetária levou a Selic à mínima histórica de 6,5 por cento em março do ano passado, mantendo a taxa em todas as reuniões subsequentes do Comitê de Política Monetária (Copom).
O BC vem tomando medidas para baratear o custo do crédito, como a diminuição do recolhimento compulsório e diversas iniciativas voltadas para o cartão de crédito.
Em 2018, a taxa média do rotativo do cartão de crédito para as pessoas físicas caiu 46,7 pontos, a 285,4 por cento ao ano. Já a taxa média do cheque especial seguiu na dianteira da modalidade mais cara. Apesar da queda de 10,4 pontos, a taxa média ficou em 312,6 por cento ao ano.
O spread, que mede a diferença entre a taxa de captação dos bancos e a cobrada a seus clientes, caiu 4 pontos no acumulado de 2018 no segmento de recursos livres, a 27,8 pontos percentuais em dezembro.