BRASÍLIA (Reuters) - O desempenho melhor que o esperado da atividade no Brasil no primeiro semestre deve levar o governo a revisar para cima a previsão oficial para a atividade no ano, atualmente em 2,5%, apontaram membros da equipe econômica, citando também incertezas sobre a política de juros e um possível risco inflacionário com o crescimento mais forte.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, previu que a nova projeção da pasta a ser divulgada em setembro deve superar 2,7% ou 2,8%, enquanto a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que o dado pode ficar próximo a 3%. A Secretaria de Política Econômica (SPE) da Fazenda, por sua vez, vê um patamar próximo ao observado em 2023, quando a economia acelerou 2,9%.
Dados divulgados nesta terça pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o PIB voltou a crescer no segundo trimestre na comparação com os três meses anteriores, a uma taxa de 1,4%, significativamente acima da expectativa de alta de 0,9% indicada em pesquisa da Reuters.
Em entrevista a jornalistas, Haddad afirmou que o crescimento mais forte que o estimado inicialmente pode levar a revisões positivas para a arrecadação tributária, mas mencionou preocupação com possíveis pressões inflacionárias.
"Temos que olhar muito para o investimento porque ele que vai garantir crescimento com baixa inflação, se nós não aumentarmos a nossa capacidade instalada, vai chegar um momento que vamos ter dificuldade de crescer sem inflação", disse, apontando que os investimentos apresentaram desempenho acima do esperado no último trimestre.
"Algumas indústrias ainda estão com muita margem para crescer a produção, mas isso não diz respeito à economia como um todo, tem setores que já estão inspirando atenção e os investimentos terão que acelerar para que não haja gargalo na oferta."
O Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne em setembro para definir o patamar dos juros básicos, atualmente em 10,50% ao ano, depois de ter incluído em seu cenário uma possível alta na Selic se necessário para levar a inflação à meta de 3%.
Em nota técnica, a SPE avaliou que o ritmo de crescimento do país deve seguir acentuado, mas apontou incerteza no cenário à frente, principalmente relacionada às decisões de política monetária do BC, “que podem prejudicar a recuperação do mercado de crédito”.
A SPE aposta que a aceleração da atividade será guiada pelo mercado de trabalho aquecido e as melhores condições de crédito na comparação com 2023.
"A expansão esperada para setores mais cíclicos e para a absorção doméstica devem direcionar o crescimento, sendo parcialmente contrabalanceadas por expectativas de recuo da atividade agropecuária, desaceleração da produção extrativa e pela menor contribuição do setor externo", apontou a secretaria.
A pasta ressaltou que os impactos negativos das chuvas no Rio Grande do Sul na atividade foram parcialmente mitigados pelas políticas de apoio às famílias, empresas e governos municipais e estadual, como esperado.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em publicação na rede social Threads que o crescimento do trimestre "se soma ao aumento dos empregos, o consumo das famílias e melhor qualidade de vida".
(Por Bernardo Caram)