Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - A pressão relativa de um mercado de trabalho aquecido sobre a inflação de serviços se reduziu nos últimos anos, sugeriu análise publicada nesta quinta-feira pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, em meio à preocupação do Banco Central sobre o comportamento de preços nesse setor.
“Embora os rendimentos do trabalho sigam ainda importantes para explicar a dinâmica dos preços de serviços, a importância relativa dos salários comparativamente aos demais custos parece ter diminuído recentemente”, disse a pasta em um box inserido em seu boletim macrofiscal.
Os preços de serviços vêm sendo acompanhados de perto pelo BC para a condução da política monetária, em um ambiente de mercado de trabalho resiliente que tende a elevar os gastos dos consumidores, além de aumentar custos para atividades intensivas em mão de obra.
O estudo da SPE analisou aspectos da inflação de serviços subjacentes, que desconsideram itens mais voláteis, apontando que esse dado voltou a acelerar de novembro de 2023 a janeiro deste ano, movimento que vem sendo atribuído por analistas a pressões do mercado de trabalho.
A pasta reconheceu que a inflação de serviços é composta por itens sensíveis aos rendimentos dos trabalhadores, mas argumentou que preços de importados e do atacado também impactam o setor, citando itens como alimentação fora do domicílio, conserto de automóveis e tratamento de animais.
Apresentando cálculos sobre o setor, a pasta afirmou que o impacto dos rendimentos dos trabalhadores sobre os preços de serviços “vem se reduzindo de maneira considerável nos últimos anos, sobretudo após a pandemia”.
Entre os possíveis motivos para essa mudança, a SPE citou a digitalização de atividades e o trabalho remoto, que reduzem custos do setor.
A secretaria ainda avaliou dados de serviços intensivos em mão de obra em comparação com outras atividades do setor. A conclusão foi que embora a inflação de serviços intensivos em trabalho siga em patamar superior a dos demais subitens, a pressão de preços nessa categoria em janeiro repercutiu com menos intensidade itens relacionados ao mercado de trabalho.
O documento afirma ainda que os preços da categoria intensiva em trabalho têm subido, o que pode estar relacionado à política de valorização do salário mínimo, “embora não explique, isoladamente, a elevação mais recente da inflação de serviços subjacentes”.
A pasta também argumentou, por outro lado, que os reajustes do piso nacional estimulam o aumento da participação no mercado de trabalho, o que poderia aliviar pressões salariais.
O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) de quarta-feira, quando a taxa básica de juros foi reduzida para 10,75% ao ano, não mencionou diretamente as pressões do mercado de trabalho sobre a inflação de serviços.
O BC disse apenas que as medidas de inflação subjacente, como um todo, se situaram acima da meta de inflação nas divulgações recentes. É possível que uma abertura na análise do setor seja apresentada na ata do Copom a ser divulgada na próxima terça-feira.