Por Howard Schneider e Michael S. Derby
WASHINGTON (Reuters) - O Federal Reserve deixou a taxa de juros inalterada nesta quarta-feira, mas sinalizou em novas projeções econômicas que os custos dos empréstimos provavelmente aumentarão mais 0,5 ponto percentual até o final deste ano, conforme o banco central dos Estados Unidos reage a uma economia mais forte do que o esperado e a uma queda mais lenta da inflação.
Em um esforço para equilibrar os riscos para a economia com uma batalha ainda não resolvida para controlar a inflação, "manter o intervalo da meta (para a taxa de juros) nesta reunião permite que o comitê avalie informações adicionais e suas implicações para a política monetária", disse o Comitê Federal de Mercado Aberto em um comunicado de política monetária unânime divulgado ao final de sua mais recente reunião de dois dias.
Novos aumentos de juros "levarão em conta o aperto cumulativo da política monetária, as defasagens com que a política monetária afeta a atividade econômica e a inflação, e os acontecimentos econômicos e financeiros", afirmou.
Em uma coletiva de imprensa após a divulgação do comunicado do banco central, o chair do Fed, Jerome Powell, destacou que "cobrimos muito terreno e os efeitos totais de nosso aperto monetário ainda não foram sentidos".
Powell acrescentou que quase todas as autoridades do Fed esperam mais incrementos de juros este ano e ressaltou que, mesmo que os formuladores de política monetária não tenham decidido o que farão com a taxa básica nas próximas reuniões, a reunião do Fomc de julho é uma "reunião ao vivo" que pode trazer outro aumento dos custos de empréstimos.
As novas projeções, acrescentando um viés "hawkish" (agressivo contra a inflação) à decisão desta quarta-feira, mostram que as autoridades veem a taxa de juros de referência subindo da faixa atual de 5,00% a 5,25% para uma faixa de 5,50% a 5,75% até o final do ano, na mediana das estimativas.
Metade das 18 autoridades do Fed indicou esse nível, com três vendo a taxa de juros ainda mais alta -- incluindo uma que a estima acima de 6%.
Duas autoridades do Fed veem os juros onde estão, e quatro veem um único aumento adicional de 0,25 ponto percentual como provavelmente apropriado.
As autoridades, no entanto, veem 100 pontos-base de cortes em 2024, e a inflação em rápida queda.
Combinadas, a perspectiva da taxa de juros e as projeções provavelmente levarão os investidores a esperar uma retomada dos aumentos de 0,25 ponto percentual da taxa a partir da próxima reunião de política monetária, em julho, o que Powell sugeriu ser possível, já que o Fed define a política de juros reunião por reunião.
As ações dos EUA caíam após a decisão e os operadores de contratos futuros vinculados à taxa de juros refletiam uma chance de 75% de outro aumento da taxa básica no próximo mês, com a probabilidade de um corte na taxa até o final do ano em queda.
"Parece que os membros do Fomc ficaram ainda mais 'hawkish' desde a última reunião, e acho que isso pegou os investidores de surpresa", disse Sam Stovall, estrategista-chefe de investimentos da SFRA Research.
CENÁRIO ECONÔMICO MAIS FORTE
A perspectiva de taxa mais alta coincide com uma visão melhor da economia e, consequentemente, um progresso mais lento em levar a inflação à meta de 2% do banco central.
A mediana das projeções das autoridades do Fed mostra que as autoridades mais que dobraram suas perspectivas de crescimento econômico em 2023 para 1%, de 0,4% em março, e agora veem a taxa de desemprego subindo apenas para 4,1% até o final do ano, em comparação com 4,5% em março. A taxa de desemprego em maio ficou em 3,7%.
A economia mais forte do que o esperado significa que a inflação cairá mais lentamente, com o núcleo do índice de preços PCE caindo dos atuais 4,7% para 3,9% no final do ano, em comparação com uma taxa de final de ano de 3,6% estimada em março.
A decisão desta quarta interrompeu uma série de dez aumentos consecutivos dos juros enquanto o Fed respondia ao pior surto de inflação em 40 anos com um conjunto de medidas agressivas, incluindo quatro aumentos de 0,75 ponto percentual no ano passado.
A taxa básica de juros do banco central, que influencia os custos de empréstimos de famílias e empresas em toda a economia, subiu 5 pontos percentuais desde o início do ciclo de aperto em março de 2022, atingindo o nível mais alto desde pouco antes do início da recessão de 2007-2009.