Por Howard Schneider e Lindsay Dunsmuir
WASHINGTON (Reuters) - O Federal Reserve (Fed, banco Central dos Estados Unidos) sinalizou que vai fornecer anos de apoio extraordinário para uma economia que está enfrentando uma tortuosa retomada da pandemia do coronavírus, com as autoridades projetando um declínio de 6,5% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e uma taxa de desemprego de 9,3% no final do ano.
Nas primeiras projeções econômicas desde o início da pandemia, os formuladores de política monetária do banco central dos EUA colocaram em números o que tem sido uma narrativa emergente: que as medidas estabelecidas para combaterem a crise de saúde ecoarão pela economia nos próximos anos em vez de serem rapidamente revertidas à medida que o comércio reabre.
As projeções mostram que a taxa de desemprego recuará para 6,5% ao fim de 2021 e a 5,5% ao fim de 2022 --em um total de 2 pontos percentuais acima do nível a qual encontrava-se ao fim do ano passado, representando milhões de trabalhos perdidos em anos.
"A crise de saúde pública pesará com força sobre a atividade econômica, emprego e inflação no curto prazo e apresenta riscos consideráveis para as perspectivas econômicas no médio prazo", disse o banco central dos Estados Unidos em seu comunicado de política monetária.
A resposta: as autoridades veem a principal taxa de juros, ou taxa de fundos federais, permanecendo próxima de zero até pelo menos 2022. A decisão de manter essa taxa inalterada nesta quarta-feira foi unânime.
As autoridades também prometeram manter as compras de títulos no ritmo atual, de cerca de 80 bilhões de dólares por mês em Treasuries e 40 bilhões de dólares por mês em títulos lastreados --um sinal de que o Fed está começando a formatar sua estratégia de longo prazo para a recuperação econômica.
Em declarações à imprensa que reconheceram os protestos contra a desigualdade racial que eclodiram nas últimas semanas o chair do Fed, Jerome Powell, disse que o banco central estava comprometido em tentar reestabelecer os empregos e o crescimento.
"O trabalho do Fed envolve comunidades, famílias e empresas de todo o país... Estamos comprometidos em usar todo o nosso conjunto de ferramentas... Para garantir que a recuperação irá ser a mais robusta possível", afirmou Powell em um briefing via videoconferência. "É um longo caminho. Vai levar algum tempo."
A expectativa é de que essa retomada anual comece, de fato, em 2021, com crescimento projetado de 5%.
Em um ponto positivo, o Fed não reduziu suas estimativas de longo prazo de pleno emprego, tendência de crescimento e taxa de fundos federais, em um sinal de que as autoridades acham que o país pode escapar de danos permanentes.
Em Wall Street, que estava praticamente estável antes do comunicado do Fed, as cotações das ações eram mistas em negociações voláteis. O índice de referência S&P 500 tinha queda de 0,4%, enquanto o Nasdaq tinha alta de 0,5%, em uma máxima recorde. Os rendimentos dos Treasuries recuavam e o dólar caía contra o euro e o iene japonês.
ANOS DE LUTA
A promessa de manter a política monetária frouxa até que a economia dos Estados Unidos esteja de volta aos trilhos repete o compromisso já feito antes na resposta do banco central à pandemia de coronavírus.
Mas as projeções são as primeiras a serem divulgadas desde dezembro e oferecem uma visão das autoridades sobre a rapidez com que o emprego e a economia podem se recuperar e uma indicação inicial de quanto tempo os juros irão se manter baixos.