BRASÍLIA (Reuters) - O governo central, formado por Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social, teve déficit primário de 9,599 bilhões de reais em agosto, resultado menor que o esperado e ajudado pelo ingresso de receitas extraordinárias, divulgou o Tesouro nesta quinta-feira, Em pesquisa da Reuters, a projeção de analistas era de um saldo negativo em 16 bilhões de reais no mês.
Em agosto de 2016, o rombo havia sido de 20,302 bilhões de reais.
No geral, a receita líquida do governo central teve um salto de 19,7 por cento, já descontada a inflação, a 92,036 bilhões de reais, diretamente beneficiada pela injeção de 6 bilhões de reais em precatórios não sacados há mais de dois anos, medida concebida pelo governo para ajudá-lo a cumprir a meta fiscal deste ano.
Também contribuindo para o salto, o Refis, programa de renegociação tributária, rendeu 3 bilhões de reais em receitas para o governo no mês. O Tesouro destacou ainda que houve elevação de 5,4 bilhões de reais nas receitas por conta "do comportamento dos principais indicadores macroeconômicos".
As despesas, por outro lado, subiram em ritmo bem menos intenso em agosto -- 4,1 por cento sobre um ano antes, para 101,634 bilhões de reais. O destaque ficou com a alta real de 5 por cento nos benefícios previdenciários, representando um acréscimo de 2,268 bilhões de reais, e o aumento de 9,2 por cento das despesas de pessoal e com encargos sociais (+1,818 bilhão de reais).
Juntos, Tesouro e Banco Central registraram superávit primário de 7,290 bilhões de reais em agosto, ante déficit de 4,988 bilhões de reais em igual mês do ano passado.
Já o déficit da Previdência Social subiu 7,6 por cento em termos reais na mesma base de comparação, a 16,888 bilhões de reais.
No acumulado dos oito primeiros meses do ano, o rombo primário chegou a 85,805 bilhões de reais, recorde para o período. Em 12 meses, o déficit é de 172,8 bilhões de reais.
Em apresentação, o Tesouro lembrou que o resultado foi negativamente impactado pela antecipação do pagamento de precatórios e sentenças judiciais pela União. Esse desembolso é habitualmente realizado em novembro e dezembro, mas neste ano foi antecipado para maio e junho.
Sem a antecipação, o déficit primário acumulado em 12 meses seria de 154,7 bilhões de reais, bem próximo da meta fiscal, que foi alargada a um rombo de 159 bilhões de reais, ante 139 bilhões de reais antes.
Para conseguir cumpri-la, o governo do presidente Michel Temer contará com a ajuda de leilões de petróleo e energia realizados na véspera, mas ainda se depara com desafios fiscais.
Os certames renderam mais de 3 bilhões de reais a mais do que o esperado, recursos que ajudarão a compensar a provável frustração de receitas com o Refis.
O programa de renegociação de dívidas tributárias teve o texto-base aprovado na quarta-feira na Câmara dos Deputados com regras mais frouxas para adesão do que as originalmente estipuladas pelo governo, o que deve afetar seu potencial de arrecadação.
(Por Marcela Ayres)