Por Isabel Versiani
BRASÍLIA (Reuters) - O Ministério da Economia elevou sua projeção de crescimento do PIB este ano para 3,50% e também aumentou a estimativa de inflação para 5,05%, patamar ainda mais distante do centro da meta de 3,75% para o período, mostrou a mais nova edição do Boletim MacroFiscal divulgado pela Secretaria de Política Econômica nesta terça-feira.
O boletim anterior, de março, previa uma alta de 3,20% do PIB e de 4,42% do IPCA para 2021.
No novo documento, a SPE destacou que os resultados melhores para a atividade no começo deste ano e a expectativa de continuidade do processo de vacinação, com impacto positivo sobre o setor de serviços no segundo semestre, justificaram a revisão da projeção de crescimento.
Já no caso do IPCA, o boletim chamou atenção para a alta acumulada de 15,55% da inflação do grupo Alimentação no Domicílio nos 12 meses até abril.
O mercado estima crescimento de 3,21% do PIB este ano, com inflação de 5,15%, segundo a mediana das projeções levantadas pelo Banco Central em seu relatório Focus.
As projeções do governo para 2022 foram mantidas em crescimento de 2,50% do PIB e de 3,50% do IPCA. Para o período 2023-2025, a estimativa de crescimento anual de 2,5% também não foi alterada.
A meta de inflação para o ano que vem é de 3,50%. Tanto neste ano quanto no próximo, há uma margem de tolerância na meta de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
"Apesar do valor (da estimativa para o IPCA) estar acima da meta de inflação de 3,75% para o ano de 2021, o mesmo encontra-se dentro do intervalo de tolerância", ponderou a SPE no boletim, acrescentando que as projeções convergem para o centro da meta a partir do próximo ano.
RISCOS
O boletim chamou a atenção para o impacto da vacinação sobre o crescimento. Levantamento feito pela secretaria com dados de 30 países sugere que cada aumento de 10 pontos percentuais das doses de vacina da Covid-19 aplicadas por 100 habitantes está associada a uma elevação de 0,13 ponto, em média, da projeção de crescimento.
"A vacinação em massa é imprescindível tanto para o crescimento econômico atual como para o crescimento futuro", disse a SPE", ressaltando o impacto favorável sobre produto, renda e expectativas.
Em apresentação à imprensa, o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, citou como desafios de curto prazo para a economia brasileira os riscos associados à pandemia, à questão hidrológica e ao cenário fiscal.
No caso do risco hidrológico, Sachsida disse que o problema não é apenas conjuntural, com as contas de energia já obedecendo aos parâmetros da bandeira vermelha, mas também conjuntural. Isso reforça, segundo ele, a importância de o país avançar na agenda de privatizações e de melhoria dos marcos legais.
"É uma agenda importante e tem que estar no nosso radar porque tem implicações sobre o crescimento econômico e sobre a inflação", afirmou.
No longo prazo, a preocupação maior, disse Sachsida, é evitar que os choques transitórios gerados pela pandemia da Covid-19 tenham efeitos permanentes na economia. Nesse sentido, ele defendeu que o caminho mais acertado é insistir na agenda de consolidação fiscal e de reformas pró-mercado.
"É graças à consolidação fiscal que você ancora expectativas, ancorando expectativas você mantém a trajetória de inflação sob controle", disse Sachsida, acrescentando que isso contém o risco país, com impacto positivo sobre o investimento e o emprego.
O secretário disse considerar a projeção de crescimento de 3,50% para este ano "conservadora" e rechaçou avaliações de que o país poderia estar vivendo um cenário de estagflação --estagnação econômica e inflação elevada.
"Não é possível falar em uma estagnação econômica em um país que está com taxas de crescimento anual acima de 3%", afirmou.