Por Howard Schneider e Lindsay Dunsmuir
WASHINGTON (Reuters) - O Federal Reserve vai avançar com planos de aumentar os juros neste mês para tentar domar a inflação elevada, mas a eclosão da guerra na Ucrânia tornou as perspectivas "altamente incertas" para as autoridades do banco central dos Estados Unidos conforme elas planejam seus próximos passos, disse o chair do Fed, Jerome Powell, nesta quarta-feira.
Em comentários preparados para depoimento ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados dos EUA, Powell reiterou a narrativa central do Fed de que a inflação alta e o mercado de trabalho "extremamente apertado" justificam juros mais altos.
"Esperamos que seja apropriado aumentar a faixa-alvo para a taxa de juros em nossa reunião deste mês", disse Powell, acrescentando que o Fed deve promover na sequência, ainda este ano, reduções em sua carteira de títulos do governo, atualmente de cerca de 8,5 trilhões de dólares.
Mas, em sua declaração inicial a parlamentares, Powell não deu nenhuma pista sobre até onde ou com qual velocidade o Fed pode precisar conduzir seu aperto monetário. Ele disse que as autoridades ainda esperam que a inflação arrefeça neste ano e contextualizou o início e a conclusão de suas observações com os acontecimentos na Ucrânia.
A inflação "está agora bem acima do nosso objetivo de longo prazo de 2%. A demanda é forte, e gargalos e restrições de oferta estão limitando a rapidez com que a produção pode responder", disse o chair do Fed.
Ele acrescentou que essas interrupções no abastecimento foram "maiores e mais duradouras do que o previsto" e reafirmou a promessa do Fed de ser tão duro quanto necessário para trazer os preços de volta à meta.
Embora se espere que algumas das pressões inflacionárias atuais diminuam ainda neste ano, "estamos atentos aos riscos de uma possível pressão adicional de alta... Usaremos nossas ferramentas de política monetária conforme apropriado para evitar que a inflação mais alta se enraíze."
"Os efeitos de curto prazo na economia dos EUA da invasão da Ucrânia, a guerra em andamento, as sanções e os eventos futuros permanecem altamente incertos", disse Powell.
"Fazer uma política monetária apropriada neste ambiente requer o reconhecimento de que a economia evolui de maneiras inesperadas. Precisaremos ser ágeis na resposta aos próximos dados e à evolução das perspectivas."
IMPACTO DA GUERRA
A inflação persistentemente alta nos EUA, agora o triplo da meta de 2% do Fed, surpreendeu as autoridades, que pensavam que os aumentos rápidos de preços desencadeados pela pandemia seriam temporários.
Desde o segundo semestre do ano passado, elas têm debatido o que fazer sobre isso.
A expectativa é de que o banco central aumente sua taxa de juros de referência, atualmente próxima de zero, em sua reunião de política monetária de 15 e 16 de março. Mais altas de juros são esperadas ao longo do restante deste ano, elevando cada vez mais o custo do crédito para consumidores e empresas.
Embora a inflação alta continue sendo o foco principal do Fed, a invasão da Ucrânia pela Rússia acrescentou uma nova dimensão à análise dos formuladores da política monetária, com o potencial de levá-la a direções opostas. A inflação pode aumentar ainda mais, por exemplo, com o salto dos preços de energia e novas restrições à movimentação de pessoas e bens.
Mas o crescimento econômico global pode ser afetado justamente no momento em que governos dos EUA e da Europa esperavam que a pandemia estivesse diminuindo, a ponto de permitir que as últimas restrições a empresas, escolas e ao contato social fossem retiradas.
Se a guerra na Ucrânia continuar ou mesmo se agravar para um conflito mais amplo, o Fed pode precisar agir para manter os mercados globais estáveis, tarefa que entraria em conflito com os planos de reduzir seu balanço.