Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - A economia brasileira começou o quarto trimestre em tom desanimado, amargando em outubro a quarta queda mensal seguida e no pior desempenho para o mês em sete anos, num mau presságio sobre os rumos da atividade neste fim de ano.
Os dados do Índice de Atividade Econômica do Banco Central-Brasil (IBC-Br) divulgados pelo Banco Central nesta quarta-feira reforçaram cenários de nova retração do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos três meses do ano, depois de no terceiro trimestre a economia já ter entrado em recessão técnica ao declinar 0,1%.
"Por enquanto, o PIB vai cair mais no quarto trimestre do que no terceiro", disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves.
A Nova Futura Investimentos projeta contração de 0,2% do PIB no quarto trimestre e vê a perda de ímpeto do IBC-Br como "bastante disseminada".
O IBC-Br --uma medida da evolução do ritmo de atividade no país-- caiu 0,40% em outubro sobre setembro, com dados ajustados sazonalmente, informou o Banco Central nesta quarta-feira.
A queda foi mais forte do que a de 0,20% prevista por analistas em pesquisa da Reuters.
O diretor de pesquisas econômicas para a América Latina do Goldman Sachs (NYSE:GS), Alberto Ramos, chamou atenção para "significativas" revisões para baixo nos números de julho (menos 24 pontos-base, para -0,12%, com ajuste sazonal), agosto (-15 pontos-base, a -0,45%) e setembro (-20 pontos-base, a -0,46%).
Em suas contas, a queda de outubro deixa o carregamento estatístico para o quarto trimestre em -0,86% --ante o terceiro trimestre e com ajuste sazonal. Ou seja, se a economia ficar parada em novembro e dezembro, acumulará retração de 0,86% nos últimos três meses do ano.
Pelos números do BC, o IBC-Br está 1,90% abaixo do patamar pré-pandemia e 7,91% aquém do pico do ciclo, alcançado em dezembro de 2013.
Ramos ainda espera que algumas áreas do setor de serviços se recuperem ainda mais nos próximos meses, em conjunto com o progresso no programa de vacinação contra a Covid-19, reabertura da economia e novo estímulo fiscal, mas faz ressalvas sobre os impactos dos aumentos dos preços.
"A alta inflação de dois dígitos, aumento das taxas de juros (condições financeiras domésticas mais apertadas), interrupções na cadeia de suprimentos afetando o setor manufatureiro, aumento do ruído político e da incerteza política e a erosão da confiança do consumidor e das empresas estão gerando ventos contrários visíveis para a atividade", disse em nota.
Dados recentes de varejo, serviços e de confiança vieram mais fracos, acendendo o alerta sobre a estagnação da atividade.
PIORA DISSEMINADA
A perda de força do IBC-Br é percebida em quase todas as análises de período.
No trimestre até outubro sobre o trimestre até julho, o IBC-Br recuou 0,94%, aprofundando a queda depois de recuar 0,65% nessa base de comparação em setembro e 0,26% em agosto.
Na comparação entre o trimestre móvel (até outubro contra três meses até setembro) --uma medida de tendência--, o índice recuou 0,44%, contra baixas de 0,34% em setembro, 0,16% em agosto e 0,14% em julho.
O dado de outubro de 2021 sobre um ano antes mostrou retração de 1,48%, uma reviravolta ante altas de 0,69% em setembro e de 4,06% em agosto.
Nos três meses até outubro de 2021 sobre um ano antes, o índice registrou alta de 1,06%, ante ganhos de 3,27% em setembro, 5,95% em agosto, 9,28% em julho e 13,35% em junho.
O IBC-Br ainda sobe 4,99% no acumulado de 2021 e ganha 4,19% em 12 meses.
A baixa de 0,40% em outubro sobre setembro foi a mais forte para o mês desde 2014 (-0,60%). O dado de setembro foi revisado para pior e agora mostra retração de 0,46%, ante contração de 0,27% reportada inicialmente.
Com a revisão para pior, o IBC-Br marcou contração de 0,65% no terceiro trimestre ante os três meses anteriores, frente à taxa negativa de 0,14% divulgada inicialmente. O número também indica recessão técnica, conforme já apontado pelo IBGE nos números do PIB do terceiro trimestre, que caiu 0,1%.
O IBC-Br já havia recuado 0,45% em agosto e 0,12% em julho. A série negativa de quatro meses é a mais longa desde as seis baixas consecutivas registradas entre julho e dezembro de 2016.