Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - A economia do Brasil iniciou 2021 com ganhos bem acima do esperado em janeiro, mostraram dados do Banco Central nesta segunda-feira, mas deve enfrentar novos desafios conforme o país vive o pior momento da pandemia de Covid-19.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), subiu 1,04% em janeiro na comparação com o mês anterior, de acordo com dado dessazonalizado.
O resultado foi o nono seguido no azul e ficou bem acima da expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,40% no mês. Também mostrou um ritmo mais forte da economia depois de perda de força ao longo do último trimestre do ano passado -- em dezembro, o IBC-Br subiu 0,7%, em dado revisado pelo BC de alta de 0,64% informada antes.
Janeiro representou o ritmo de expansão mais forte desde setembro, porém a divulgação do dado acontece no momento em que o país passa por seu pior momento na epidemia, com contaminações e óbitos em alta e sistemas de saúde sobrecarregados, bem como a imposição de restrições mais rígidas de isolamento em vários Estados.
Na comparação com janeiro de 2020, o IBC-Br registrou queda de 0,46% e, no acumulado em 12 meses, teve recuo de 4,04%, segundo números observados.
A economia brasileira registrou em 2020 a maior contração em 24 anos, uma queda de 4,1%, sob o impacto das medidas de contenção ao coronavírus.
O ano de 2021 começou de forma distinta entre os setores econômicos. A indústria brasileira teve alta da produção pelo nono mês seguido, de 0,4%, mas em desaceleração e sofrendo o impacto do agravamento da pandemia no Amazonas.
O volume de serviços no Brasil voltou a subir em janeiro e acima do esperado, com ganho de 0,6% em relação a dezembro, mas as vendas varejistas apresentaram perdas de 0,2% no mês em meio ao fim do auxílio emergencial.
Embora o ano tenha começado com pontos positivos, o país enfrenta agora um pano de fundo de incertezas que vão além da piora da pandemia em meio à lentidão da vacinação.
"O índice surpreendeu positivamente, principalmente, após leituras fracas dos índices de varejo, serviços e indústria do IBGE para o mês nos últimos dias. Ainda que o resultado tenha vindo acima das expectativas, esperamos um arrefecimento da atividade econômica no primeiro trimestre de 2021", disse em nota Felipe Sichel, estrategista-chefe do banco digital modalmais, calculando queda de 0,7% do PIB nos três primeiros meses do ano.
O BC se reúne nesta semana para decidir sobre a taxa básica de juros, com expectativas de aumento da mínima histórica de 2,0%. A renovação do auxílio emergencial ainda não saiu e o cenário fiscal continua preocupando, em meio à deterioração do quadro inflacionário e ao desemprego ainda elevado.
A pesquisa Focus do BC divulgada nesta segunda-feira mostra que o mercado espera crescimento de 3,23% do PIB em 2021, indo a 2,39% em 2022, em cenários mais fracos do que os esperados no levantamento anterior.