Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - A inadimplência no mercado de crédito no país no segmento de recursos livres atingiu em 2015 o maior patamar em mais de três anos, num ambiente de pressão sobre o orçamento dos brasileiros, em meio à economia em recessão, inflação elevada, aumento do desemprego e condições mais duras de financiamento.
Nesse segmento, em que os empréstimos têm taxas de juros definidas livremente pelas instituições financeiras, a inadimplência foi a 5,3 por cento em dezembro, contra 5,2 por cento em novembro e 4,3 por cento um ano antes, divulgou o Banco Central nesta quarta-feira.
Com isso, a taxa foi ao nível mais alto desde novembro de 2012, quando havia ficado em 5,31 por cento.
O quadro reflete as condições mais duras no ano para a quitação de empréstimos, que ficaram mais caros diante do ciclo de aperto nos juros para combate à inflação, além do aumento da percepção de risco com um mercado de trabalho em deterioração e diminuição da renda média dos trabalhadores.
Em dezembro, os juros médios no segmento de recursos livres caíram a 47,3 por cento, contra 48,1 por cento em novembro. Mas no ano, exibiram alta de 10 pontos percentuais.
O spread bancário, que aponta a diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada pelos bancos ao consumidor final, também teve ligeira queda em dezembro, a 32,1 pontos percentuais, contra 33,3 pontos em novembro. No acumulado de 2015, entretanto, o aumento foi de 6,8 pontos percentuais.
ESTOQUE
Num retrato da desaceleração da concessão de empréstimos no Brasil em meio à recessão econômica, o estoque total de crédito subiu 6,6 por cento em 2015, a 3,217 trilhões de reais, ou 54,2 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
O desempenho ficou abaixo do enxergado pelo BC, que estimou em dezembro que essa alta seria de 7 por cento no ano, ante 9 por cento de projeção anterior.
Foi o pior crescimento do estoque da série histórica do BC para o saldo de financiamentos no país iniciada em 2007, sendo também o primeiro avanço de um dígito apenas.
O BC já vinha apontando essa tendência de menor alta no saldo de empréstimos, em parte pelo aumento da base nos últimos anos, em parte pelas condições menos favoráveis à tomada de empréstimos, na esteira da derrocada econômica.
Para 2016, a expectativa é de expansão de 7 por cento no estoque de crédito no país, conforme divulgado pela autoridade monetária no mês passado.