BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta quinta-feira que "preocupa muito" a política monetária que pode ser feita por um outro governo, referindo-se à hipótese de vitória de um dos candidatos de oposição, dizendo que os juros poderiam virar "estratosféricos" diante do que ele disse estar sendo sinalizado neste momento da campanha eleitoral.
"Estão falando de política monetária que vai combater a inflação de forma radical e poderemos voltar a juros estratosféricos que tínhamos no passado, onde só o setor financeiro levava vantagem e a produção era prejudicada", afirmou o ministro a jornalistas ao comentar o projeto de lei orçamentária para 2015.
"Se teve uma coisa que fizemos foi baixar os juros e os impostos para o setor produtivo ser competitivo", acrescentou.
O comentário de Mantega ocorre num momento em que as pesquisas eleitorais mostram a liderança da presidente Dilma Rousseff (PT) ameaçada no primeiro turno e possibilidade de derrota no segundo turno para Marina Silva (PSB).
A ex-senadora disse recentemente que não se controla a inflação somente elevando a taxa básica de juros, mas também com "eficiência do gasto público".[nL1N0QU0KA]
Já o economista Mansueto Almeida, um dos coordenadores do programa de Aécio Neves (PSDB), terceiro colocado na disputa presidencial, disse que "é normal" elevar os juros para combater a inflação.[nL2N0QO0J2]
E o futuro ministro da Fazenda num eventual governo Aécio, Armínio Fraga, precisou elevar fortemente o juro básico quando assumiu a presidência do Banco Central, em 1999, para impedir um descontrole inflacionário.
Mantega disse ainda que o governo vem sempre cumprindo o chamado tripé da economia, com a meta de inflação e de superávit primário, além do câmbio flutuante.
"Se estão criticando tudo isso é que vão fazer tudo ao contrário, valorizar o câmbio para combater a inflação, subir a taxa de juros fortemente para combater a inflação", afirmou Mantega.
Para ele, a oposição poderia até ser bem-sucedida, mas criaria recessão e desemprego. "Tudo o que a população avançou... corre o risco de ser revertido e isso é muito perigoso".
A inflação neste ano continua rondando o teto da meta do governo --de 4,5 por cento pelo IPCA, com limite de 2 pontos percentuais--, mesmo após o Banco Central ter feito um ciclo de aperto monetário que durou um ano e levou a Selic ao atual patamar de 11 por cento ao ano.
Do lado fiscal, o governo tem enfrentado muitas dificuldades neste ano. Nos 12 meses encerrados em junho, o superávit primário acumulado equivalia a 1,36 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a meta para o ano, de 99 bilhões de reais, equivale a 1,9 por cento do PIB. [nL2N0Q61FO]
(Reportagem de Luciana Otoni)