Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - Os preços de serviços continuarão pressionando a inflação no próximo ano mesmo com o cenário de recessão no país, reflexo dos elevados custos, sobretudo das tarifas públicas, e das dificuldades econômicas que têm levado parte das empresas a fechar as portas, abrindo espaço para as sobreviventes repassem pelo menos parte desses custos.
As projeções de especialistas consultados pela Reuters para a alta dos preços de serviços em 2016 giram em torno de 7 por cento, sem muito alívio diante dos cerca de 8 por cento esperados para este ano, cenário que coloca mais pressão sobre o Banco Central na sua tarefa de domar os preços.
"É uma resiliência tremenda. Diante dessa realidade de custos, as empresas repassam mesmo para o preço final", afirmou a economista-chefe da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro, lembrando que houve importantes aumentos de preços em energia elétrica, transporte público, gasolina e diesel.
Para ela, os preços de serviços devem subir 8,2 por cento este ano e 7 por cento em 2016, contra 9,6 e 6,5 por cento do IPCA, respectivamente.
A inflação de serviços manteve-se acima de 8 por cento no acumulado em 12 meses durante todo este ano, ajudando a levar o IPCA, índice oficial do país, a alta de quase 10 por cento. Só em outubro, os preços de serviços subiram 0,62 por cento.
A principal vilã é a tarifa de energia elétrica, que subiu 49 por cento no ano até outubro.
A economia em contração também ajuda no repasse de preços, pelo menos no curto prazo, porque reduz a concorrência pelo fato de parte dos prestadores de serviços não conseguir sobreviver. Deste modo, os que permanecem, muitas vezes maiores e melhor estruturados, têm condições de repassar pelo menos boa parte dos custos mais elevados.
"Certas atividades conseguem manter o preço ou reajustar num nível importante porque, se você sobrevive, pega um pedaço (da demanda) daquele que faliu", disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, para quem a inflação de serviços será de 7,29 por cento neste ano, contra 8,48 por cento esperados para 2015.
Outro fator que tende a conter a desaceleração da alta dos preços de serviços é o salário mínimo, que deve ir a 865,50 reais em 2016 de acordo com a proposta orçamentária do governo, ante atuais 788 reais, com alta de quase 10 por cento.
"O salário mínimo sobe bem, e também é algo que impede que os preços de desacelerem mais, porque haverá mais dinheiro para gastar, evitando que a renda real caia ainda mais", disse Alessandra, da Tendências.
ALGUM ALÍVIO EM 2017
Uma desaceleração mais significativa na inflação de serviços só deve se concretizar, segundo os especialistas, em 2017, quando já não se espera mais o choque dos preços de administrados visto agora e o efeito de dois anos de recessão deve ser mais forte.
Para 2015 e 2016, segundo pesquisa Focus do BC que ouve semanalmente uma centena de economistas, a projeção é de que o Produto Interno Bruto (PIB) recue 3,10 e 1,90 por cento, respectivamente.
Diante da expectativa de arrefecimento na escalada dos preços provocado pela recessão, Alessandra projeta algo em torno de 6 por cento para a inflação de serviços em 2017, ainda elevado se comparado com sua expectativa de que o avanço do IPCA desacelere a 4,7 por cento.
No Focus, a projeção para de alta do IPCA em 2017 é de 5,0 por cento. Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, a inflação de serviços deve ficar em 5 por cento em 2017, após um "mercado de trabalho bastante deteriorado em 2016".
"Vamos ver, no início do ano que vem, o preço de serviços desacelerando mais rápido, mas ainda registrando níveis bastante elevados por conta dos custos", citou ele, para quem a inflação de serviços termina 2016 a 7,6 por cento, pouco abaixo dos 8,2 por cento esperados para este ano.
Piorando sua previsão para a inflação neste ano e no próximo, o BC mudou seu discurso recentemente e afirma agora que tomará as medidas necessárias para levar a inflação ao centro da meta em 2017, depois de defender que isso aconteceria no fim de 2016. E deixou claro que, se o atual cenário fiscal se deteriorar ainda mais, pode voltar a elevar a Selic, hoje a 14,25 por cento ao ano.