(Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse neste sábado que os dados de inflação mais recentes pioraram, mas destacou que o banco não se fia apenas na leitura isolada de índices para moldar suas decisões de política monetária.
"Recentemente até tivemos um número de inflação um pouquinho pior, muito carregado em elementos voláteis", disse, em um evento do think thank EsferaBR.
"Mas a gente não se comporta com dados de tempo real. Então, a gente olha isso(a inflação) como uma tendência."
A inflação atingiu 4,24% em 12 meses até agosto, acelerando pela terceira quinzena seguida e superando as previsões do mercado.
No começo do mês, o Banco Central começou um ciclo de afrouxamento com um corte na taxa básica de juros de 0,5 ponto percentual, a 13,25% ao ano, sinalizando mais do mesmo para reuniões futuras, enquanto membros do conselho chamaram o ritmo de "apropriado".
Após o Congresso aprovar novas regras fiscais propostas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para conter o crescimento desenfreado da dívida pública, Campos Neto ressaltou que as receitas fiscais precisam ser expandidas por meios sustentáveis, melhorando as perspectivas das contas públicas e da taxa de juros.
Campos Neto preferiu não opinar diretamente sobre as medidas propostas para taxar fundos de investimentos offshore e fechados que o governo pretende enviar ao Congresso.
Contudo, no geral, ele disse que as medidas deveriam tentar proteger a base das receitas, garantindo eficiência e continuidade dos processos de cobrança.
"Algumas medidas de arrecadação acabam tendo uma coisa que a gente chama de erosão de base: você cobra um imposto, mas a base diminui", afirmou.
"Então, é importante que sejam medidas que a gente consiga perpetuar sua cobrança com eficiência, sem gerar muita má alocação de recursos no caminho."
(Reportagem de Marcela Ayres, em Brasília)