Gerardo Tena.
México, 9 abr (EFE).- Com a imagem mostrada ao mundo pelas
medidas que aplicou, há quase um ano, para se proteger da nova gripe
(H1N1), o México enfrentou sérios problemas econômicos e, durante
algum tempo isolado, despertou a rejeição de muitos países.
Depois de 23 de abril de 2009, quando alertou sua população da
presença de um vírus contagioso e cujo real potencial era
desconhecido até então, o país foi se povoando pouco a pouco de
pessoas com os rostos cobertos por máscaras e que buscavam evitar o
contato físico.
As aulas foram canceladas em vários estados do país e, na
capital, ficaram suspensos os serviços em restaurantes e as grandes
concentrações, como jogos de futebol e missas em templos religiosos.
As reações no mundo não demoraram e vários países cancelaram os
voos para o México. Algumas causaram atritos diplomáticos e até
reclamações do presidente mexicano, Felipe Calderón, que se queixou
por o Haiti ter rejeitado um navio com ajuda humanitária.
O primeiro setor a sofrer um duro golpe foi o porcino. A pequena
localidade de La Gloria, no estado de Veracruz e próxima a
criadouros de porcos, foi apontada como o epicentro de uma doença
inicialmente chamada de gripe suína.
Menos de um mês depois do surto, a indústria reportou perdas de
US$ 75 milhões devido a uma queda na venda de carne de porco. Embora
as autoridades de saúde no mundo todo tenham esclarecido que o vírus
não era transmitido pela ingestão da carne, o problema já estava
criado e o setor foi seriamente prejudicado.
O turismo, terceira maior fonte de receita para o México,
refletiu também imediatamente os efeitos da gripe. Em maio do ano
passado, teve uma contração de 49% na captação de divisas devido à
epidemia.
No entanto, as autoridades consideraram que o setor pôde se
recuperar no final do ano e que a contração em todo 2009 foi de 4,5%
em relação ao que foi captado em moeda estrangeira em 2008.
Analistas calcularam inicialmente que a gripe provocaria uma
queda de 0,5 ou até 1 ponto percentual do Produto Interno Bruto
(PIB) em 2009, ano em que o México caiu em recessão empurrado pela
crise econômica mundial.
Em agosto de 2009, o então ministro da Fazenda, Agustín Carstens,
assegurou que na queda de 10,3% do PIB no segundo trimestre de 2009
a gripe teve muita participação.
"Sem essa epidemia teríamos tido definitivamente crescimento no
segundo trimestre", disse Carstens.
A economia mexicana recuou em 2009 6,5%, o que, segundo o
ministro da Saúde, José Ángel Córdova Villalobos, teve pouco a ver
com a gripe.
Em entrevista à Agência Efe, o ministro da Saúde disse que "o
dano econômico foi realmente limitado porque tudo se resolveu muito
rápido", além de a atividade econômica produtiva não ter sido
suspensa.
No entanto, o México solicitou perante a Organização Mundial da
Saúde (OMS) um fundo para ressarcir os danos econômicos causados
pela epidemia, já que as autoridades mexicanas foram as primeiras a
informar sobre o vírus.
"Não houve nenhuma resposta e acho que não vai haver mais", disse
o ministro. Segundo ele, o fundo seria um atrativo para os países
informarem a tempo sobre um surto, já que "o primeiro que informa é
o que tem mais repercussões negativas".
O ministro diz que o México não foi o berço do vírus e suspeita
que tenha chegado dos Estados Unidos.
Villalobos reconhece que, ao dar a informação sobre um novo
vírus, foram geradas várias reações pois há ameaça latente sobre o
H5N1, que tem uma capacidade letal de 60%.
"Foram horas intensas, críticas e difíceis por toda a incerteza
que estávamos vivendo porque não sabíamos o que aconteceria",
confessa.
Ele destaca que os cenários sobre os quais trabalharam para
conter o vírus, que naquele momento tinha sua capacidade ainda
desconhecida, eram para enfrentar a gripe, "que podia ter dois
milhões de infectados em três meses com um milhão de mortos".
Até o momento, o México informou de 1.032 mortos e 72.233 casos
confirmados da gripe, e considera que a doença está controlada. O
Governo diz ter aplicado 60% das 30 milhões de vacinas a que teve
acesso. EFE