Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - Os preços de energia elétrica e combustíveis recuaram e a inflação oficial brasileira registrou o menor nível para abril desde o Plano Real (1994), indo abaixo do centro da meta do governo e abrindo caminho para o Banco Central ser mais agressivo ao reduzir os juros.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 4,08 por cento nos 12 meses até abril, sobre 4,57 por cento no mês anterior. A meta oficial é de 4,5 por cento pelo IPCA, com tolerância de 1,5 ponto percentual neste ano e no próximo.
Trata-se do nível mais baixo nessa base de comparação desde julho de 2007, quando a inflação chegou a 3,74 por cento, e foi abaixo do centro da meta pela primeira vez desde agosto de 2010, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira.
Na comparação mensal, o IPCA desacelerou a alta a 0,14 por cento no mês passado, sobre 0,25 por cento em março, ligeiramente abaixo das expectativas de analistas em pesquisa da Reuters, de 0,16 por cento no período. Para o acumulando em 12 meses, as contas indicavam avanço de 4,1 por cento.
A menor pressão inflacionária tem como pano de fundo cenário de recuperação econômica ainda fraquejante, com desemprego alto e renda baixa que contêm o consumo.
ENERGIA E COMBUSTÍVEIS
A inflação de abril teve como destaques as quedas nos preços de energia elétrica e combustíveis, respectivamente de 6,39 e 1,95 por cento, em abril. Segundo o IBGE, a queda nas contas de energia representou o maior impacto negativo do mês (-0,22 ponto percentual) e se deveu aos descontos adotados para compensar cobranças indevidas relacionadas à usina de Angra III.
Isso levou o grupo Habitação a registrar deflação em abril, de 1,09 por cento. Por outro lado, os preços de Saúde e Cuidados Pessoais aumentaram 1 por cento, enquanto os de Alimentação aceleraram a alta a 0,58 por cento.
Já a inflação de serviços, que tem destaque na condução da política monetária do BC, mostrou mais pressão em abril ao subir 0,49 por cento, sobre 0,33 por cento no mês anterior. Em 12 meses, entretanto, a alta desacelerou a 5,96 por cento, sobre 6,05 por cento.
Economistas consultados na pesquisa Focus do BC veem a inflação oficial terminando este ano a 4,01 por cento. A perspectiva para a taxa básica de juros é de novo corte de 1 ponto percentual neste mês, terminando 2017 a 8,5 por cento.
Atualmente a Selic está em 11,25 por cento, e o resultado da inflação favorece a possibilidade de ritmo mais intenso de cortes, além de alimentar a discussão sobre meta de inflação menor de inflação para 2019.
O BC explicou que chegou a discutir que a conjuntura econômica já permitiria redução maior dos juros em sua última decisão de política monetária, em abril, mas acabou optando por queda mais modesta devido ao cenário de incertezas e riscos.