Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - Os preços de combustíveis voltaram a cair e a alta dos alimentos desacelerou, levando a deflação a ganhar força no Brasil em maio e chegar ao patamar mais baixo em 22 anos, em meio às consequências da pandemia de coronavírus.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou em maio queda de 0,38% depois de ter caído 0,31% em abril, informou Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira.
Maio marcou o segundo mês seguido de deflação e esse é o resultado mensal mais fraco para o índice desde agosto de 1998, quando os preços caíram 0,51%.
"Três grupos merecem destaque em maio: transportes caíram menos devido à menor queda da gasolina, houve desaceleração nos alimentos e os artigos de residência saíram do negativo para positivo", destacou o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.
Com isso, em 12 meses a inflação acumulada foi ainda mais abaixo do piso da meta oficial, chegando a 1,88% em maio, de 2,40% no mês anterior. O objetivo de inflação para este ano é de 4% com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
As expectativas em pesquisa da Reuters eram de recuo de 0,46% na variação mensal e alta de 1,80% em 12 meses.
Tanto as medidas de isolamento para contenção do coronavírus quanto recentes reduções no preço da gasolina pela Petrobras (SA:PETR4) vêm influenciado a movimentação de preços no Brasil.
Em maio, a maior pressão veio da queda de 4,56% nos preços dos combustíveis, levando o grupo Transportes a recuar 1,9%, embora tenha marcado um recuo menor do que o de 2,66% visto em abril.
A gasolina recuou 4,35%, menos do que a queda de 9,31% em abril. O custo do etanol recuou 5,96% e do óleo diesel teve queda de 6,44%. Já as passagens aéreas recuaram 27,14%.
Entretanto, o cenário para os custos dos combustíveis deve mudar em junho, possivelmente contribuindo para uma aceleração do IPCA.
"Tivemos aumento de preços na gasolina e eles podem impactar o índice em junho e mudar a trajetória", disse o gerente da pesquisa.
Dos nove grupos pesquisados, cinco tiveram deflação em maio, com quedas ainda nos preços Habitação (-0,25%), Vestuário (-0,58%), Saúde e Cuidados Pessoais (-0,10%) e Despesas Pessoais (-0,04%).
ALTAS
No lado das altas, os preços de Artigos de residência subiram 0,58% puxados pela alta dos artigos de TV, som e informática.
“Esse aumento pode ter relação com o dólar, com o efeito pass-through, quando a mudança no câmbio impacta os preços na economia. E artigos eletrônicos normalmente são mais afetados porque têm muito componentes importados. Então a desvalorização do real acaba impactando o preço desses produtos também”, explicou Kislanov.
Já Alimentação e bebidas avançou 0,24%, desacelerando ante a alta de 1,79% em abril. Cenoura (-14,95%) e frutas (-2,1%), que haviam subido em abril, passaram a cair em meio, e contribuíram para que a alta da alimentação no domicílio passasse de 2,24% para 0,33% em maio.
“O grupo dos alimentos voltou a ser o de maior peso por conta da pandemia. Como eles ficaram mais caros e os transportes mais baratos, houve uma mudança nos pesos do índice", disse Kislanov.
Os consumidores no países devem permanecer cautelosos em meio à crise econômica, que provocou uma contração de 1,5% da economia do país no primeiro trimestre, com o cenário apontando para uma recessão histórica.
Entretanto, a reabertura da economia pode contribuir também para o IPCA voltar a subir, impactando principalmente o setor de serviços, cujos preços tiveram queda de 0,45% em maio.
"A reabertura de lojas e prestação de serviços pode causar mais movimento na economia e isso pode influenciar nos preços, mas o cenário é ainda incerto. A flexibilização das medidas de isolamento pode movimentar a economia e mexer com indicador de serviços", destacou Kislanov.
O Banco Central volta a se reunir na próxima semana para decidir sobre a política monetária em meio a essa crise econômica, e a expectativa é de nova redução da taxa básica Selic, atualmente em 3%.
Na pesquisa Focus mais recente realizada pelo BC junto a economistas, a expectativa é de que a inflação termine este ano a 1,53%.