SÃO PAULO (Reuters) - Pressionada por energia elétrica, tarifas de ônibus e combustíveis, a prévia da inflação oficial brasileira acelerou a alta a 1,33 por cento em fevereiro, maior nível em 12 anos, deixando o Banco Central ainda mais encurralado entre os elevados níveis de preços e a perspectiva de contração econômica.
O avanço de janeiro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), após alta de 0,89 por cento em janeiro, foi o maior desde fevereiro de 2003, quando o índicador subiu 2,19 por cento.
Com esse resultado, o IPCA-15 acumulou alta de 7,36 por cento em 12 meses até fevereiro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, contra 6,69 por cento em janeiro.
Em 12 meses, este é o maior nível desde junho de 2005 (7,72 por cento), superando em muito o teto da meta do governo --de 4,5 por cento, com margem de 2 pontos percentuais.
Os resultados ficaram um pouco acima da mediana das expectativas em pesquisa da Reuters, de alta de 1,29 por cento na comparação mensal e de 7,34 por cento em 12 meses.
De acordo com o IBGE, o preço da energia elétrica exerceu o maior impacto individual no mês, de 0,23 ponto percentual, após subir 7,70 por cento. Isso levou o grupo Habitação a acelerar a alta a 2,17 por cento em fevereiro, contra 1,23 por cento no mês anterior.
A energia já havia subido no início do ano após o governo adotar o uso da bandeira tarifária, que repassa ao consumidor os custos mais altos de geração devido à falta de chuvas.
Mas o grupo com maior impacto no IPCA-15 do mês foi Transportes, de 0,37 ponto percentual diante da alta de 1,98 por cento, contra 0,75 por cento em janeiro.
O resultado reflete principalmente, segundo o IBGE, os reajustes nas tarifas de ônibus de urbanos, que subiram 7,34 por cento. E também a alta de 2,96 por cento no litro da gasolina e de 2,54 por cento no litro do diesel após aumento das alíquotas de PIS/COFINS que entrou em vigor em 1º de fevereiro.
Os preços administrados tendem a ser o maior vilão da inflação neste ano, devido sobretudo aos reajustes de transportes, energia elétrica e combustíveis.
O grupo que registrou maior alta em fevereiro, entretanto, foi Educação, de 5,98 por cento, em decorrência dos reajustes vistos no início do ano letivo, destacou o IBGE.
O Banco Central, que vem prometendo esforços para levar a inflação de volta à trajetória para o centro da meta em 2016, já elevou sua estimativa de alta dos preços administrados em 2015 a 9,3 por cento, mas economistas consultados na pesquisa Focus do próprio BC já estimam alta de 10,4 por cento desses custos.
Em um processo de aperto monetário iniciado em outubro passado, o BC já elevou a Selic a 12,25 por cento ao ano. Diante do quadro de inflação pressionada e sem sinais de arrefecimento, agentes econômicos veem aumento de 0,5 ponto percentual na Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no início de março.
Para o IPCA ao final deste ano, os economistas consultados no Focus estimam alta de 7,33 por cento. Já em relação à econonomia a perspectiva é de contração de 0,50 por cento.
(Por Camila Moreira)