Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - O IPCA-15 indicou que a inflação "oficial" no Brasil deve encerrar 2021 no patamar mais elevado em seis anos, bem acima de 10%, mantendo os temores no país sobre pressões de preços e perspectiva de contínuo aperto da política monetária.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) subiu 0,78% em dezembro, de uma alta de 1,17% no mês anterior, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os resultados ficaram praticamente em linha com as expectativas em pesquisa da Reuters com economistas, de alta de 0,80% na comparação mensal e de 10,45% na base anual.
O IPCA-15 é considerado uma prévia do IPCA, este referência para o regime de metas de inflação perseguido pelo Banco Central.
Apesar da desaceleração na taxa mensal, o IPCA-15 encerrou o ano de 2021 com avanço acumulado de 10,42% nos 12 meses até dezembro, muito acima da meta oficial --de 3,75%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA.
Essa é a maior taxa acumulada até o mês de dezembro desde 2015, quando o IPCA-15 fechou em 10,71%, e mostra uma forte disparada em relação à alta de 4,23% registrada nos 12 meses até o último mês de 2020.
Confirmando-se que o IPCA fechará bem acima do teto da meta, o Banco Central terá que divulgar uma carta explicando os motivos de o objetivo não ter sido cumprido, o que aconteceu pela última vez em 2017. Naquela ocasião, porém, a carta teve de explicar por que a inflação terminou o ano abaixo do piso da meta, e não acima, como acontecerá em 2021.
O ano ainda foi marcado pela pandemia de Covid-19, que afetou a cadeia de oferta global e provocou alta dos preços em todo o mundo.
A economia brasileira também teve pela frente alta de commodities e desvalorização da taxa de câmbio.
Diante da forte pressão inflacionária, o Banco Central intensificou o aperto monetário, e a Selic fecha o ano a 9,25%, taxa determinada no início de dezembro, depois de ter começado 2021 na mínima histórica de 2,0%.
GASOLINA
O maior aumento de custo dentro do IPCA-15 veio do grupo Transportes, uma vez que os preços desse grupo dispararam 21,35% em 2021.
Ele também exerceu a maior influência em dezembro, com alta de 2,31%, diante do salto de 3,40% dos combustíveis. A gasolina contribuiu com o maior impacto individual do mês ao subir 3,28%, com etanol (4,54%) e óleo diesel (2,22%) também em alta.
Ainda em 2021, os custos de Habitação dispararam 14,67%, enquanto os de Artigos de residência tiveram alta acumulada de 12,18%. Já Alimentação e Bebidas, com importante peso sobre o bolso dos consumidores, subiu 8,68%.
Em dezembro, Habitação teve alta de 0,90%, com a inflação da energia elétrica em 0,96% em meio à bandeira Escassez Hídrica. Alimentação e bebidas subiu 0,35%, e Artigos de residência avançou 1,19%.
Para 2022, a meta de inflação cai a 3,50%, também com margem de 1,5 ponto para mais ou menos. O mercado calcula que o IPCA terminará o próximo ano com alta de 5,03%, segundo a mais recente pesquisa Focus do BC, com a Selic a 11,50%.