Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A economia brasileira deve encolher 6% neste ano de acordo com nova projeção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), prevendo que apenas no segundo trimestre a retração será de 10,5% devido às medidas de contenção do coronavírus.
Em março, antes de as medidas de isolamento ganharem força, o Ipea projetava uma retração do Produto Interno Bruto (PIB) este ano de 0,4% a 1,8%.
O estudo mostrou que o mês de abril deve ser o que mais sentirá os efeitos da pandemia de Covid-19, mas a partir de maio já se espera uma reação que deve ganhar tração no segundo semestre.
"A queda projetada do PIB é de 6%, mas a trajetória de recuperação no segundo semestre deixará um 'carryover' de quase 2% para 2021, cujo crescimento projetado é de 3,6%”, mostrou o estudo do Ipea.
No segundo trimestre, a expectativa é de uma retração de 13,8% na indústria, com os serviços recuando 10,1% e o consumo das famílias apresentando perdas de 11,2%. Para o terceiro e quarto trimestres a expectativa é de recuperação da atividade econômica.
"Maio já tem melhoras no consumo de energia, produção e venda de veículos, e nos indicadores de confiança. A partir de junho os números tendem a ser mais fortes com a reabertura da economia", disse o diretor do Ipea José Ronaldo de Castro.
A estimativa oficial do governo aponta para uma queda de 4,7% do Produto Interno Bruto, mas o mercado mostra-se ainda mais pessimista, com a pesquisa Focus realizada pelo Banco Central mostrando expectativa de contração de 6,48% para este ano.
SETORES
Em 2020, a indústria deve recuar 7,3%, passando a subir 4% no ano que vem. A agropecuária segue como destaque positivo com previsão de crescimento de 3% este ano ante uma projeção anterior de 2%.
“A alta da agropecuária deve contribuir também para atenuar a queda da indústria por meio de seu impacto sobre a produção de alimentos, segmento com maior peso na indústria de transformação brasileira”, disse o Ipea.
Pelo lado da demanda, os investimentos devem ser o componente mais afetado pela pandemia, com retração de 9,7% em 2020, mas também com crescimento mais elevado no ano que vem, de 6,8%.
As importações, influenciadas pela desvalorização cambial e pela redução do nível de atividade, devem recuar 6,5% este ano e as exportações, 6,4%.
"É importante destacar que essas projeções estão sujeitas a grande incerteza, tanto no que se refere à estimativa do impacto da pandemia sobre a atividade econômica corrente, como no que tange às hipóteses subjacentes ao ritmo esperado de recuperação no restante do ano. O cenário econômico continuará sendo avaliado, e as previsões poderão ser revistas à luz de novas informações”, disse o Ipea.