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Guerra cambial à vista?

Publicado 23.11.2024, 13:00
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Nos últimos 40 dias, assistimos à narrativa do mercado mudar de maneira considerável.

Até o final de setembro, a tese que prevalecia era a fraqueza do dólar, com o ouro renovando máximas e o índice DXY na região dos 100.400 pontos. Porém, os ventos de outubro passaram a precificar cada vez mais a doutrina Trumpnomics (políticas econômicas protecionistas defendidas por Donald Trump).

A vitória de Trump com a maioria lhe dá bem mais poderes do que há 8 anos. A vitória, na magnitude que ocorreu, soa como um "cheque" da população para ele implementar o que prometeu. Em 50 dias, o DXY saiu de 100.400 pontos para 107.000, o maior nível em 55 semanas.

Se o DXY continuar subindo, teremos turbulência à vista nos mercados. As commodities agrícolas já estão precificando isso. No pregão de hoje, a Soja CBOT com vencimento em março de 2025 perdeu o suporte dos US$10 por bushel. Nos níveis de preço atual da soja, se o dólar voltar 0,30 centavos (cenário possível, mas improvável atualmente), os pedidos de recuperação judicial no agro vão explodir.

Quando Trump assumir o seu mandato no dia 20/01/2025, a depender da maneira como as propostas de campanha serão implementadas, vamos abrir a caixa de Pandora das relações comerciais. Afinal, é inocência acreditar que outros países não irão retaliar impondo tarifas aos produtos americanos.

A solução encontrada pelos chineses às tarifas de Trump em 2018 foi depreciar sua moeda. Uma nova guerra tarifária certamente vai obrigar os chineses a repetir a estratégia. Para um país que está brigando com a deflação, depreciar sua moeda tem grandes riscos, mas as circunstâncias exigem a medida.

O Brasil, como é um derivativo chinês, vai precisar fazer bem o seu dever de casa para evitar que o real se deprecie ainda mais. Até o momento, a moeda brasileira já perdeu 20% em relação ao dólar em 2024.

A situação atual do país evidencia que o problema é endógeno. A curva de juros já passou a projetar Selic a 14% no final de 2025, e o juro real (juro acima da inflação) já chegou a 7%.

O governo atual, aparentemente, não está dando a devida atenção ao problema fiscal. Nos últimos dois anos, houve uma piora considerável na composição da dívida pública federal, e o governo Lula mais uma vez adiou o anúncio do pacote fiscal.

Nas últimas semanas, com exceção das LFTs (títulos públicos federais que acompanham a Selic), os leilões de títulos públicos foram bem abaixo do esperado. O mercado sabe do risco fiscal e está exigindo cada vez mais uma taxa maior para financiar o governo.

O Brasil atualmente é um dos países emergentes mais endividados, com uma dívida/PIB de 79% e com o maior custo de rolagem, que em 2025 vai superar os 12%.

Conforme previsto no artigo "A conta do arcabouço fiscal não fecha", o arcabouço fiscal do governo já está respirando por aparelhos.

Se houvesse confiança de que o governo Lula iria fazer um ajuste fiscal, o mercado estaria comprando os títulos pré-fixados. Porém, basta olhar o histórico do partido para saber que o PT, além de nunca se esforçar para fazer ajuste fiscal, sempre trabalhou contra os governos que o fizeram.

O cenário macroeconômico mudou, e os ventos, até o momento, não estão muito favoráveis para o mercado brasileiro. O novo mandato Trump vai deixar o cobertor bem mais curto para os países emergentes. Se o governo não ajustar sua política fiscal, a consequência será um real mais depreciado, com juros e inflação maiores.

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