Por Bernardo Caram e Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia enviar, de uma vez só, todas as suas próximas quatro indicações à diretoria colegiada do Banco Central, incluindo a de Gabriel Galípolo para o comando da autarquia, afirmaram múltiplas fontes ouvidas pela Reuters.
O movimento deve ser feito nas próximas semanas, como adiantou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e, uma vez que suas escolhas tomem posse em 2025, caso aprovadas pelo Senado, Lula passará a ter uma maioria de sete indicados no Comitê de Política Monetária (Copom), que tem nove membros com mandatos fixos.
O nome de Galípolo, atual diretor de Política Monetária, está bem consolidado para substituir o presidente do BC, Roberto Campos Neto, que está no posto desde 2019, por indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro, e tem mandato até o fim deste ano, disseram sete fontes sob condição de anonimato.
Para o seu lugar, um nome considerado é o do economista-chefe do Bradesco (BVMF:BBDC4), Fernando Honorato, que tem bom trânsito na Fazenda e entre líderes do governo, disseram três fontes com conhecimento do assunto. Uma delas pontuou, contudo, que ainda há outros candidatos no páreo.
Outra fonte afirmou que Marcelo Kayath, sócio da QMS Capital e ex-diretor do Credit Suisse (SIX:CSGN) no país, chegou a ser sondado para o posto, mas já teria declinado. À Reuters, ele afirmou que não comentaria o assunto.
Para a diretoria de Regulação, ocupada desde 2015 por Otávio Damaso, um candidato é Gilneu Vivan, atual chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do BC, apontaram duas fontes.
Já para a diretoria de Relacionamento, hoje ocupada por Carolina Barros, as mesmas fontes afirmaram que uma forte candidata é Juliana Mozachi, que chefia o Departamento de Supervisão de Conduta e já foi chefe de gabinete da área. Sua escolha também asseguraria a presença de ao menos uma mulher na diretoria colegiada, frisou uma das fontes.
Tradicionalmente, as diretorias de Regulação e Relacionamento da autarquia são chefiadas por servidores da casa, o que não acontece com a diretoria de Política Monetária, que lidera a mesa de câmbio e em geral é comandada por um profissional do mercado.
Desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no final de julho, quando a diretoria do BC foi unânime em manter a taxa básica de juros em 10,50% ao ano e incluir em seu cenário uma possível alta da Selic se necessário, Galípolo assumiu a liderança da comunicação do colegiado, se portando como porta-voz da decisão do grupo em eventos públicos, e se alinhando a uma visão mais dura para a política monetária.
Os posicionamentos trouxeram alívio a preços de mercado, reduzindo temores levantados nos últimos meses com a possibilidade de o BC adotar uma postura mais leniente no combate à inflação quando Lula, um crítico contumaz do atual patamar dos juros, alcançasse a maioria de indicados na diretoria.
Campos Neto, por sua vez, não tem abordado em suas falas públicas tópicos que concentraram a atenção do mercado nos últimos dias, como a avaliação do Copom de que há mais fatores de risco de alta da inflação à frente ou a chance de elevação na Selic pelo BC, deixando as explicações para Galípolo.
Para uma fonte a par das discussões, a indicação não apenas de Galípolo, mas de todos os possíveis diretores em conjunto daria tempo para as negociações com senadores, facilitando e agilizando o processo de sabatina e votação no plenário da Casa, que é responsável por avaliar e aprovar os nomes.
Outra fonte afirmou que governo e Senado ainda discutirão detalhes do trâmite das indicações. Uma das possibilidades colocadas à mesa é que as sabatinas dos candidatos sejam feitas ainda em setembro, antes das eleições municipais.
Os procedimentos devem ser definidos em reunião entre Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ainda a ser agendada.
Procurado, o Palácio da Planalto não respondeu imediatamente. O Banco Central e o Ministério da Fazenda afirmaram que não iriam se manifestar sobre o tema. O Bradesco, por sua vez, informou que desconhece o assunto.
Em vigor desde 2021, a lei que concedeu autonomia operacional ao BC estabelece que presidente e diretores da autarquia terão mandato fixo de quatro anos, não coincidentes com o do presidente da República, o que obriga o governo eleito a conviver por determinado período com diretores indicados pela gestão anterior.