Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - Projeções mostram aumento expressivo da chance da inflação fechar 2023 dentro da banda de tolerância da meta neste ano, disse nesta quarta-feira o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, reforçando a pressão para que o Banco Central corte a taxa básica de juros.
"Temos, a nosso ver, condições colocadas há algum tempo (...) para um processo vigoroso, um processo sustentado de redução da taxa básica de juros", disse.
Em entrevista para comentar projeções do governo para indicadores econômicos, o secretário destacou a melhora nas expectativas para a inflação e disse não estar criticando o BC, mas apenas fazendo "constatações com dados".
"Não há nenhuma razão técnica para a taxa de juros brasileira estar no nível que está hoje", acrescentou, em relação à manutenção da Selic em 13,75% ao ano.
Mello ressaltou que não está insinuando que o BC tem algum tipo de atuação política e que não tem intenção de influenciar as decisões da autarquia, e sim mostrar à população os efeitos das decisões de política monetária.
O secretário destacou ainda que a taxa de câmbio no Brasil teve expressiva valorização, o que colabora significativamente para a queda da inflação, e que o cenário externo também apresenta fatores desinflacionários.
Em seu Relatório Macrofiscal apresentado nesta quarta-feira, a Secretaria de Política Econômica (SPE) reduziu sua estimativa para a alta do IPCA a 4,85% em 2023, contra 5,58% da projeção anterior. Para 2024, o patamar foi estimado em 3,30% -- estava em 3,63% antes.
A meta para o IPCA é de 3,25% para este ano e 3% para 2024, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual nos dois casos.
Na entrevista, Mello argumentou que o elevado nível de juros é um dos fatores mais importantes para explicar a trajetória do endividamento público, enfatizando que uma redução da Selic terá efeito positivo sobre dados fiscais, econômicos e sociais.
Segundo ele, o governo federal deve gastar neste ano 680 bilhões de reais em pagamento de juros da dívida pública, cifra maior do que os desembolsos feitos a ministérios de grande porte, como os que cuidam de Saúde e Educação.
"É importante que o Brasil se aproxime o quanto antes de um padrão minimamente comparável a seus pares (no nível de juros)", afirmou.